O exército israelense e grupos armados palestinos cometeram abusos durante a ofensiva militar de 2014 que podem ser considerados crimes de guerra, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pela comissão de investigação da ONU sobre o último conflito na Faixa de Gaza.
“A comissão coletou informações substanciais que apontam sérias violações à lei humanitária internacional e à lei internacional de direitos humanos, tanto por parte de Israel como dos grupos palestinos armados”, indica o estudo.
Em alguns casos, “estas violações podem ser consideradas crimes de guerra”, afirma o documento.
A operação militar israelense contra Gaza realizada entre 8 de julho e 26 de agosto de 2014 causou a morte de 2.251 palestinos (1.462 civis e 551 crianças), enquanto 67 soldados e seis civis perderam a vida no lado israelense.
A comissão acusa Israel de ter cometido violações tanto no contexto das hostilidades em Gaza como ao realizar assassinatos, torturas e maus tratos na Cisjordânia.
Ao todo, 27 palestinos perderam a vida e 3.020 ficaram feridos na Cisjordânia entre junho e agosto de 2014, segundo os analistas.
A comissão questiona o fato de que Israel não tenha substituído a cúpula militar, apesar das acusações que pesam sobre ela e “perante o alto nível de destruição e morte em Gaza”.
Sobre os grupos armados palestinos, a comissão denuncia a “natureza indiscriminada dos mísseis lançados contra Israel e que tinham como objetivo atacar os civis, o que viola a lei humanitária internacional e pode constituir crimes de guerra”.
Além disso, a comissão denuncia as execuções extrajudiciais dos chamados “colaboracionistas”, algo que também poderia constituir crimes de guerra.
A comissão é formada pela americana Mary McGowan Davis e pelo senegalês Doudou Diène, que lamentam que “a impunidade prevaleça” em ambos os lados.
“Israel deve romper sua lamentável marca de não exigir responsabilidades dos responsáveis, não só como uma medida de oferecer justiça para as vítimas, mas também como uma medida de garantir a não repetição”.
“O estabelecimento de mecanismos de reconhecimento de responsabilidades por violações supostamente cometidas por Israel e palestinos serão fundamentais e um fator decisivo para evitar outra onda de hostilidades no futuro”, ressaltam os especialistas.
Os 50 dias de guerra representaram a terceira ofensiva israelense de grande dimensão na Palestina desde 2007.
Críticas
Desde seu início, Israel disse que não reconheceria os resultados porque considera que a comissão “tem um viés notório a favor dos palestinos” e “uma obsessão singular” em relação ao Estado judaico.
Em nota, disse que suas forças “atuaram com os mais altos padrões internacionais”. “É condenável que o informe não reconheça a profunda diferença entre o comportamento moral de Israel durante a operação e das organizações terroristas que o país enfrentou”.
Hamas
O grupo islamita Hamas apontou concordar com o relatório. “O movimento Hamas dá as boas-vindas às condenações da ONU pelos crimes de guerra cometidos pela ocupação israelense durante sua última agressão lançada na Faixa de Gaza em julho de 2014”, disse em comunicado seu porta-voz, Sami Abu Zuhri.
“Esta franca condenação requer (que seja adotado) o seguinte passo de levar os líderes da ocupação perante o Tribunal Penal Internacional e outros tribunais internacionais para que sejam julgados por seus crimes cometidos contra nosso povo”, disse o porta-voz.
Abu Zuhri não fez referência às acusações, também de possíveis crimes de guerra, que o relatório enumerou sobre seu grupo e outras milícias armadas da Faixa.
O porta-voz aproveitou a oportunidade para pedir o fim da ocupação e o bloqueio ao território por parte de Israel.
“Afirmamos que existe a necessidade de pôr fim a esta ocupação e cessar as agressões e o injusto bloqueio sionista (israelense) que continua sendo imposto a nosso povo e nossas terras, principalmente na Faixa de Gaza”, exigiu.