Uma nova rodada de hostilidades entre israelenses e militantes do grupo terrorista Hamas levou à escalada do conflito no início desta semana, quando militantes palestinos lançaram centenas de foguetes contra Israel e jatos israelenses realizaram bombardeios no território inimigo.
O Exército israelense informou que enviou tropas de infantaria extras e defesas aéreas para reforçar a segurança na fronteira com Gaza, depois de cerca de 400 foguetes e morteiros terem sido lançados pelo Hamas em território israelense na segunda-feira (12), um dos mais violentos ataques do Hamas contra Israel desde 2014.
Vários foguetes atingiram prédios residenciais, enquanto um míssil antitanque atingiu um ônibus que transportava soldados, segundo os militares, ferindo gravemente um homem de 19 anos. O sistema de defesa aéreo de Israel, Iron Dome, interceptou aproximadamente 100 dos 400 projéteis, segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).
Embora a violência em Gaza tenha se reacendido esporadicamente nos últimos meses, o confronto de segunda-feira atingiu um novo grau. Pelo menos 12 palestinos e um israelense morreram desde domingo (11).
“Em resposta aos 100 de foguetes disparados indiscriminadamente da #Gaza a #Israel, nossos caças atacaram o Hamas e alvos terroristas da Jihad Islâmica Palestina em toda a Faixa de Gaza. O Hamas sofrerá as consequências de suas ações”, tuitou o perfil oficial do porta-voz das Forças de Defesa de Israel.
Os militares israelenses atingiram pelo menos 150 alvos em Gaza, sinalizando uma campanha com alcance mais amplo do que outros bombardeios recentes.
Um dos pontos atingidos foi a sede da TV Al-Aqsa, dirigida pelo Hamas. O prédio foi descrito pelos militares israelenses como um “alvo estratégico do terrorismo”. O Hamas, que controla Gaza, disse que seu principal edifício de segurança interna no centro da cidade de Gaza também foi atingido.
O Ministério da Saúde da Palestina em Gaza disse que cinco pessoas foram mortas nos ataques aéreos. A Jihad Islâmica, outro grupo terrorista em Gaza, disse que dois dos mortos eram seus combatentes.
Do lado israelense, um homem de 40 anos foi morto quando um foguete atingiu um prédio. Segundo o The Guardian, este homem era um palestino da Cisjordânia que vivia em Israel. Outras vinte pessoas ficaram feridas nos ataques do Hamas.
“Há um amplo espaço para alvos adicionais", disse o tenente-coronel do exército israelense Jonathan Conricus, porta-voz das Forças de Defesa de Israel. "Nós sinalizamos ao Hamas, ao longo desta noite, que temos a inteligência e a capacidade de atacar uma variedade de alvos militares que pertencem ao Hamas".
O Hamas também ameaçou intensificar seus ataques à Israel. “Aproximadamente um milhão de sionistas estarão dentro do alcance de nossos mísseis se a decisão do inimigo sionista for continuar sua agressão”, disse um porta-voz do grupo terrorista.
Nesta terça-feira, um alto funcionário do governo israelense falou ao jornal Times of Israel que Israel “estava rejeitando os esforços de divulgação dos mediadores internacionais”.
"Não estamos conversando com eles sobre um cessar-fogo", disse uma importante autoridade israelense ao jornal, falando sob condição de anonimato.
Nos últimos meses havia esforços para forjar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, um processo que foi mediado pelo Egito, pelas Nações Unidas e pelo Catar. Israel e o Hamas lutaram três guerras em dez anos, com conflitos se tornando cada vez mais frequentes nos últimos meses, enquanto o Hamas incita os moradores a protestarem na divisa ao longo da fronteira com Israel.
Como as agressões se intensificaram
Facções militantes em Gaza prometeram retaliar o “crime agressivo” de Israel depois que sete extremistas palestinos, incluindo um comandante do Hamas, foram mortos no domingo à noite, enquanto um grupo de forças especiais israelenses realizava uma operação dentro de Gaza. Um alto oficial israelense também foi morto.
As forças armadas israelenses permaneceram em silêncio sobre o incidente, mas disseram que uma operação secreta estava ocorrendo a pelo menos três quilômetros no interior da Faixa de Gaza, quando a presença da unidade foi exposta de alguma maneira. Uma troca de tiros entre as tropas e os combatentes palestinos se seguiu, tornando-se mortal e levando a unidade israelense a pedir por apoio aéreo.
O tenente-general Gadi Eisenkot, chefe do estado-maior geral das Forças de Defesa de Israel, disse que a equipe estava envolvida em uma “operação muito significativa para a segurança de Israel”.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, interrompeu sua viagem a Paris na noite de domingo, quando foi divulgada a notícia de que a operação havia dado errado.
Um comunicado das Brigadas Izzedine al-Qassam, a ala militar do Hamas, disse que a equipe israelense estava três quilômetros dentro de Gaza em um carro civil quando a briga começou.
Residentes na área, a leste da cidade de Khan Younis, disseram que um grupo de combatentes do Hamas parou o veículo que transportava os israelenses para verificar suas identidades. Foi então que a unidade israelense atirou e matou Nour Baraka, um líder local do Hamas, e outro militante, disseram eles.
A declaração do Hamas afirma que Baraka foi “assassinado”. Ele disse que a unidade foi “enfrentada por nossos combatentes”.
Moradores disseram que o veículo israelense partiu e foi perseguido por dois carros do Hamas. Ataques aéreos israelenses mataram os outros cinco militantes, disseram.
O tenente-coronel Jonathan Conricus, um porta-voz militar israelense, disse que a operação, “como muitas outras semelhantes a ela”, era parte de um esforço contínuo contra “diferentes organizações terroristas”. Ele disse que missão não era matar ou sequestrar.
O exército israelense não divulgou a identidade do soldado morto. Falando na Rádio do Exército de Israel, o porta-voz militar Ronen Manelis disse que o soldado, apesar de estar ferido, foi fundamental para garantir o retorno seguro da unidade infiltrada. Um outro soldado ficou moderadamente ferido, disseram as autoridades.
Crise humanitária
Apenas um dia antes, a situação parecia mais promissora.
Basem Naim, funcionário do Hamas, disse que o entendimento é que Israel permitiria a entrada de fundos do Catar na faixa de Gaza, projetos humanitários de instituições internacionais e uma ampliação da área de pesca permitida a Gaza para 12 milhas náuticas.
A precária situação de segurança ao longo da fronteira levou Israel a tentar encontrar uma solução para a crescente crise humanitária em Gaza.
Desde março, milhares de moradores de Gaza realizaram manifestações semanais na divisa com o país para protestar contra condições cada vez mais difíceis no território. Mais de 200 palestinos foram mortos, em sua maioria por disparos de atiradores israelenses.
O Hamas tem apoiado os protestos e está colocando em colapso a Faixa de Gaza, que tem 360 quilômetros quadrados e abriga cerca de 2 milhões de habitantes. A região sofre um forte bloqueio de Israel há mais de uma década. O Hamas tem por meta “pulverizar” o país e usa indiscriminadamente a violência, por meio do lançamento de foguetes e de ataques suicidas. Outro país que tem intensificado a pressão contra os terroristas é o Egito, que tem fechado os tuneis que o ligam à Faixa de Gaza, atrapalhando os planos dos contrabandistas, que pagavam taxas ao grupo. A cobrança de impostos é umas fontes de receita do Hamas.
Israel diz que os protestos são uma cobertura para o Hamas invadir Israel, enquanto militantes de Gaza também enviaram pipas e balões incendiários pela fronteira, provocando incêndios.
Netanyahu disse a repórteres em Paris no domingo que há limites para as negociações de cessar-fogo:
“Você não pode ter uma solução política com pessoas comprometidas com a sua destruição”, disse ele.