Militantes palestinos em Gaza dispararam mais foguetes e morteiros contra Israel na manhã de quarta-feira (30), enquanto jatos israelenses retaliaram ao atingir cerca de 25 alvos pertencentes ao Hamas, enquanto ocorriam as conversas para um cessar-fogo.
A noite agitada, com lançamento permanente de foguetes de Gaza contra as comunidades israelenses, seguiu uma forte escalada que teve início na terça-feira, quando militantes palestinos dispararam mais de 100 foguetes e morteiros contra Israel.
O conflito é o maior desde que Israel e Hamas, a facção terrorista que governa a Faixa de Gaza, travaram uma guerra de 50 dias em 2014.
Na manhã de quarta-feira, no entanto, havia alguma indicação de um cessar-fogo entre os lados e houve silêncio por várias horas.
Em um comunicado, o Exército israelense informou que os alvos dos jatos de combate na madrugada de quarta-feira incluíram galpões usados para armazenar drones, uma oficina de fabricação de foguetes, armamentos navais, complexos militares, instalações de treinamento e um local de fabricação de munições. Na terça-feira, Israel destruiu um túnel construído pelo Hamas que avançava 900 metros em território israelense. Este foi o décimo túnel descoberto e destruído por Israel desde outubro.
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"O Exército vê com grande severidade a atividade terrorista realizada pela organização terrorista Hamas e continuará a operar de maneira poderosa e determinada. O Exército está preparado para executar suas missões conforme necessário, usando a variedade de ferramentas à sua disposição", escreveram os militares.
As autoridades israelenses informaram que os foguetes causaram danos às comunidades próximas à fronteira de Gaza, incluindo um ataque a uma casa residencial e outro na cidade de Netivot, no sul de Israel. No primeiro lançamento de morteiros, na manhã de terça-feira, um deles atingiu um jardim de infância, embora nenhuma criança estivesse no local naquele momento. Os hospitais locais também relataram vários ferimentos leves, causados principalmente por estilhaços. Um soldado israelense precisou ser atendido e estava em condição moderada.
No sul de Israel, os moradores passaram a maior parte da terça-feira e a madrugada de quarta-feira em abrigos antiaéreos.
"Isso é algo que não podemos tolerar", disse o coronel Jonathan Conricus, um porta-voz do Exército israelense, que informou jornalistas na terça-feira. "O Hamas está transformando a divisa em uma zona de combate ativa e não podemos tolerar ataques a civis israelenses e alvos militares".
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Horas mais tarde, o Hamas divulgou um comunicado conjunto com a Jihad Islâmica assumindo a responsabilidade pelos ataques, mas até o início da quarta-feira os grupos disseram que havia um acordo para retornar ao cessar-fogo que estava estabelecido desde 2014.
"Houve muita mediação nas últimas horas", disse Khalil al-Hayya, um alto funcionário do Hamas, em um comunicado. Ele disse que as facções, incluindo a Jihad Islâmica, concordariam com o cessar-fogo se Israel fizesse o mesmo.
Os líderes israelenses não confirmaram imediatamente que um acordo foi firmado, embora a mídia local tenha informado que Israel enviou uma mensagem ao Hamas dizendo que, se os foguetes parassem, os ataques aéreos também parariam.
Acordo de paz?
Tem havido uma ampla especulação em Israel e Gaza de um acordo de paz mais amplo sendo discutido entre os dois lados, já que as tensões aumentaram na região nos últimos meses.
"Esta última escalada foi iniciada pela Jihad Islâmica e não pelo Hamas, em parte porque houve progresso em alcançar um entendimento entre Hamas e Israel", disse Kobi Michael, pesquisador do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel e ex-vice-diretor geral do Ministério de Assuntos Estratégicos de Israel.
Ele acredita que houve negociações nas últimas semanas entre os dois lados, facilitadas pelos egípcios e pelos cataris.
"A Jihad Islâmica Palestina é um representante iraniano e uma organização muito militante. Ao contrário do Hamas, eles não têm nenhuma responsabilidade para com os civis em Gaza", disse ele. "Eles não querem ver nenhum progresso a ser feito entre o Hamas e Israel porque isso vai contra a ideologia deles".
Michael explicou que o Hamas estava em uma situação difícil depois de manifestações semanais em massa que ocorreram na fronteira entre Israel e Gaza. Forças israelenses mataram mais de 100 pessoas nesses protestos, incluindo 60 em 14 de maio, dia em que os Estados Unidos inauguraram a embaixada do país em Jerusalém.
Israel retirou unilateralmente suas colônias e presença militar de Gaza em 2005, mas depois que o Hamas tomou o poder sobre a Faixa de Gaza há mais de uma década, impôs um bloqueio terrestre e marítimo no enclave. O Egito também manteve sua passagem para Gaza fechada durante a maior parte dos últimos 10 anos.
Uma crescente crise humanitária em Gaza levou seus moradores a protestar contra a situação insustentável e no final de março milhares de pessoas começaram protestos exigindo tanto o direito de retornar à terra que hoje fica dentro de Israel quanto a solução para a crise que atinge mais de 2 milhões de habitantes.
"Eles sacrificaram muito e conseguiram muito pouco", avaliou Michael. "Foram pressionados pelos egípcios e seus próprios civis para acordar um longo cessar-fogo com Israel".
Ou probabilidade de guerra?
Mukhaimer Abu Saada, professor de ciência política na Universidade al-Azhar, em Gaza, registrou a renovação das hostilidades e a insatisfação entre o Hamas e a Jihad Islâmica em relação à situação atual, que continuou com o bombardeio israelense. "Ainda não houve declaração de guerra, mas existe a possibilidade", disse ele.
O Coordenador Especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, pediu calma para ambos os lados em um comunicado divulgado na terça-feira.
"Tais ataques são inaceitáveis e minam os sérios esforços da comunidade internacional para melhorar a situação em Gaza", disse ele.
Itamar Ya'ar, ex-vice-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, disse que é improvável que a última escalada leve a outra guerra, principalmente porque nenhum dos lados está interessado em tal confronto, mas que “é claro que as coisas podem mudar".
"Eu acho que o sistema de segurança deu aos líderes políticos informações suficientes para todos perceberem que se livrar do Hamas significa reocupar Gaza. Eu não acho que pessoas sérias em Israel queiram reocupar Gaza", disse Ya'ar.