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O governo de Israel declarou, nesta terça-feira (11), estado de emergência na cidade de Lod, a sudeste de Tel Aviv, em meio ao recente confronto entre Israel e grupos terroristas na Faixa de Gaza, que tem sido descrito como o mais intenso entre os inimigos desde 2014. O prefeito de Lod, uma cidade mista de árabes e judeus, disse em entrevista à imprensa local que a situação está sem controle e com sinais de "guerra civil".
As hostilidades entre Israel e o Hamas aumentaram na madrugada de quarta-feira, com vários ataques aéreos de ambos os lados. Até o momento, pelo menos 35 palestinos foram mortos em Gaza e três pessoas morreram em Israel, segundo a Reuters. O enviado da ONU para o Oriente Médio apelou para o fim da violência, dizendo que as hostilidades "estão escalando para uma guerra em grande escala".
Diversos protestos foram registrados nesta terça-feira em cidades árabes israelenses em Israel, como Lod, Nazareth e Haifa. A polícia de Lod disse que os tumultos na cidades são ainda piores do que os registrados em outubro de 2000 em cidades mistas. "Nós não vimos confrontos como esses entre judeus e árabes e ataques nacionalistas como os que estamos vendo aqui", afirmou um comissário da polícia de Lod.
Na madrugada de quarta-feira (noite de terça-feira no Brasil), uma grande explosão foi ouvida em Tel Aviv. O Hamas afirmou que lançou 110 foguetes contra a cidade e o aeroporto Ben Gurion, que está fechado temporariamente e desviou voos para o Chipre.
Sirenes de alerta também soaram sem parar em cidades do sul e do centro de Israel, que relataram dezenas de explosões. Os foguetes foram lançados minutos após as forças israelenses relatarem a destruição de um edifício de nove andares em Gaza, encerrando um período de horas de calma, segundo o Times of Israel. Segundo a Associated Press, o edifício de nove andares abrigava apartamentos residenciais, empresas de produtos médicos e uma clínica odontológica.
As forças de defesa de Israel (IDF) informaram que destruíram "vários alvos importantes de terroristas pela Faixa de Gaza" e que os ataques continuam na madrugada desta quarta-feira. Os bombardeios são uma resposta aos "centenas de foguetes nas últimas 24 horas", disse o IDF em postagem no Twitter nas primeiras horas de quarta-feira (por volta de 22h30 de terça em Brasília).
Segundo o IDF, o comandante da unidade de míssil anti-tanque do Hamas foi morto em ataque aéreo israelense.
Colocando de lado diferenças políticas, o premiê israelense Benjamin Netanyahu apareceu hoje ao lado de seu rival político Benny Gantz, ministro da Defesa, em entrevista coletiva. "Há vários alvos enfileirados. Esse é apenas o começo", disse Gantz.
Netanyahu viajou para Lod para supervisionar as ações para reimpor a ordem na cidade mista. "Eu tenho recebido atualizações o dia todo sobre o que está acontecendo aqui na cidade e vejo a situação como extremamente grave. Isso é anarquia de desordeiros que não podemos aceitar", disse o premiê.
Analistas dizem que as imagens vistas hoje lembram os acontecimentos de setembro de 2000, no início da Segunda Intifada, quando dezenas de protestos em cidades árabes israelenses e cidades mistas gerou reação da polícia de Israel e a morte de jovens árabes.
Prédio desaba em Gaza
Mais cedo na terça-feira, um bombardeio da Força Aérea de Israel destruiu instantaneamente um prédio de 13 andares na Faixa de Gaza usado pela liderança política do Hamas, grupo militante palestino que governa o enclave. Não há relatos de vítimas. Em resposta, o Hamas lançou foguetes contra os arredores de Tel-Aviv e deixou ao menos três pessoas feridas. O ataque ocorreu depois de o Hamas matar dois israelenses com foguetes lançados de seu território na cidade de Ascalão.
Os confrontos começaram na sexta-feira, quando manifestantes palestinos e a polícia de Israel entraram em confronto na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. Pela manhã, o premiê Benjamin Netanyahu prometeu ampliar as respostas ao Hamas, depois das mortes no sul de Israel.
Tensão em Tel-Aviv
O bombardeio israelense deixou os arredores do prédio sem luz. Em resposta, o Hamas e a Jihad Islâmica lançaram foguetes contra Tel-Aviv, uma das principais cidades de Israel, mais ao norte. O escudo antimísseis israelenses, o Domo de Ferro, impediu que os artefatos chegassem perto da cidade.
Ainda assim, pedestres tiveram de se abrigar quando as sirenes tocaram. Um foguete acabou caindo no subúrbio de Holon, ferindo três pessoas. Decolagens no Aeroporto Internacional Ben Gurion foram suspensas.
"Cumprimos a nossa promessa", disse em comunicado a Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, braço armado do Hamas. "Lançamos 130 foguetes contra o inimigo".
Reações internacionais
Frente à escalada de violência, os Estados Unidos transmitiram o seu "apoio inabalável" à segurança de Israel. O conselheiro de segurança nacional do governo americano, Jake Sullivan, discutiu em telefonema com o seu homólogo em Israel os passos para a restauração da paz na região, informou uma porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA em comunicado.
O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, falou mais cedo com o ministro de Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, para expressar a preocupação do país norte-americano com os ataques de foguetes em território israelense. Blinken pediu que todos os lados "reduzam as tensões e coloquem fim à violência, que tomou a vida de civis israelenses e palestinos, incluindo crianças".
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá pela segunda vez em três dias para discutir os confrontos entre Israel e Gaza. A sessão, a ser realizada na quarta-feira (12), foi solicitada pelas missões da China, Noruega e Tunísia.
O que está por trás do conflito
O mais recente conflito é movido por diferentes fatores. Primeiro, a decisão de expulsar duas famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, na parte oriental de Jerusalém, para devolver as casas para judeus que eram proprietários dos terrenos antes da Guerra Árabe-Israelense, de 1948. No início do ano, um tribunal deu ganho de causa aos colonos judeus. No domingo, a Suprema Corte, que deveria decidir a questão, adiou o julgamento, que deve ser remarcado em 30 dias.
Israel diz que a situação na região é uma disputa imobiliária privada, que os palestinos aproveitaram para incitar a violência. Grupos de colonos dizem que Sheikh Jarrah era propriedade de judeus antes da guerra de 1948, em torno da criação de Israel. A lei israelense permite que os judeus recuperem essas terras, mas impede que os palestinos retomem propriedades que perderam na mesma batalha, mesmo que ainda residam em áreas controladas por Israel.
A maior parte dos 350 mil residentes palestinos de Jerusalém Oriental estão em bairros superlotados, onde há pouco espaço para construir. Eles dizem que o custo e a dificuldade de obter licenças os força a construir ilegalmente ou se mudar para a Cisjordânia ocupada, onde correm o risco de perder sua residência em Jerusalém. Israelenses estimam que, das 40 mil casas em bairros palestinos, metade foi construída sem autorização.
A proximidade do julgamento do caso provocou protestos de grupos árabes e, desde sexta-feira, centenas de pessoas ficaram feridas em confrontos entre grupos de palestinos e policiais israelenses em Jerusalém, nos arredores da Esplanada das Mesquitas, local sagrado para os muçulmanos.
Outro ponto de tensão é a celebração do Dia de Jerusalém, aniversário da reunificação de Jerusalém, sob domínio de Israel, após a Guerra dos Seis Dias, em 1967 – uma anexação que a maioria dos países do mundo não reconhece.
O clima de tensão foi potencializado também pelo mês sagrado dos muçulmanos, o Ramadã, que começou em 12 de abril e termina hoje – um período normalmente marcado por protestos. Durante a manhã de ontem, mais de 300 pessoas ficaram feridas quando a polícia israelense invadiu a Esplanada das Mesquitas. Nove policiais foram feridos, segundo Israel.
Na tarde de segunda-feira, o Hamas havia ameaçado publicamente atacar a nação judaica se as forças de segurança israelenses não desocupassem a Esplanada das Mesquitas (Monte do Templo) e o bairro de Sheikh Jarrah até às 18h local (meio-dia no horário de Brasília).
Com informações do Estadão Conteúdo.
Conteúdo editado por: Helen Mendes