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No 75º aniversário da libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, elevou a pressão contra o Irã. Aproveitando a presença de líderes globais em Jerusalém, ele apresentou o governo iraniano como a nova ameaça aos judeus.
"Um terço dos judeus morreu em chamas (nos campos nazistas) e não pudemos fazer nada a respeito. Depois do Holocausto, o Estado de Israel foi criado, mas as tentativas de destruir o povo judeu não desapareceram. O Irã declara todos os dias que quer apagar Israel da face da Terra", disse Bibi em transmissão pelo YouTube. "A primeira lição de Auschwitz é: você tem de deter o mal desde o início. Agora, o Irã é uma coisa muito ruim que ainda pode crescer com a arma nuclear".
Netanyahu diz que está "preocupado" porque os líderes mundiais não criaram "uma posição unificada contra o regime mais antissemita do planeta", em referência ao Irã.
Cerca de 40 líderes estrangeiros estão em Jerusalém para uma maratona de eventos, que começa nesta quinta-feira (23), com um programa focado na luta contra o antissemitismo, mas também na questão iraniana. O campo de Auschwitz foi libertado pelas tropas do Exército soviético em 27 de janeiro de 1945. Para o premiê, a ameaça nazista do passado agora se chama Irã, principalmente em razão de seu programa de mísseis e do risco de os iranianos produzirem uma bomba nuclear, duas riscos diretos à existência de Israel.
Preocupação com Hezbollah
Netanyahu se opôs ao acordo nuclear iraniano de 2015 e pediu aos europeus que sigam o exemplo dos EUA, que se retiraram do acordo em maio de 2018, e restabeleceram sanções contra a nação persa. A questão esteve na agenda da reunião de quarta-feira entre Bibi e o presidente francês, Emmanuel Macron, conforme confirmado pela presidência da França.
A portas fechadas, de acordo com um comunicado do gabinete do premiê israelense, Netanyahu criticou o "projeto do Hezbollah", milícia xiita que acaba de costurar um governo de coalizão no Líbano, de fabricar mísseis de precisão. Mais tarde, Macron defendeu a "vigilância" contra "qualquer forma de atividade terrorista que possa sair do Líbano e ameaçar a segurança de Israel" - uma referência ao Hezbollah.
Nos últimos meses, o Exército israelense acusou o Hezbollah de tentar converter, com a ajuda do Irã, foguetes em mísseis de precisão, que seriam mais difíceis de combater e poderiam causar danos consideráveis no território israelense. "Se Hassan Nasrallah (chefe do Hezbollah) entender que é muito arriscado para ele avançar com esse projeto, ele vai parar", disse uma fonte de segurança israelense.
Esperando pela Rússia
Na semana passada, França, Reino Unido e Alemanha abriram caminho para o restabelecimento de sanções contra o Irã, ativando o processo de solução de controvérsias previsto no acordo de 2015. A medida foi bem recebida em Israel, embora os analistas ainda duvidem da capacidade de Netanyahu de convencer os europeus a aderirem à política americana de "pressão máxima".
Netanyahu também aguarda uma reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, para discutir a influência do Irã na Síria, onde a Rússia desempenha um papel fundamental na guerra civil. Nos últimos anos, milícias pró-Irã multiplicaram as tentativas de atacar Israel a partir de pontos no território sírio.
Após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani, Putin fez uma visita-surpresa a Damasco, a primeira desde o início da guerra na Síria. "Talvez tenha sido uma tentativa de fortalecer a posição russa em detrimento do Irã", disse Itamar Rabinovitch, ex-negociador da Síria, atualmente professor da Universidade de Tel-Aviv. "Mas os russos não farão concessões a Israel e aos EUA sem receber algo em troca".
Apesar do vaivém diplomático dos próximos dias, em Jerusalém, analistas não esperam grandes avanços ou acordos abrangentes em razão da ausência de Donald Trump, que enviou o vice-presidente, Mike Pence, para representar os Estados Unidos.
Conteúdo editado por: Isabella Mayer de Moura