Palestinos ajudam a apagar fogo em carro que transportava o comandante do Hamas e que foi atingido por míssil israelense| Foto: Reuters

Análise

Assassinato favorece linha mais ideológica do movimento islâmico

O assassinato do líder das Brigadas Izz el-Din al-Qassam, Ahmad Jabari, desarticula a estrutura militar do Hamas. Mas, para o governo da Faixa de Gaza, o golpe na estrutura bélica é acompanhado de ganhos políticos. Ele sai de cena no auge de um complexo processo eleitoral interno que vai eleger um novo líder para o comitê político do Hamas, desde 1996 nas mãos de Khaled Meshal. E seria Jabari um dos fiéis dessa balança de poder.

Segundo analistas, o maior beneficiado com a morte do comandante em chefe do Hamas é a ala mais ideológica do movimento islâmico, comandada publicamente pelo premier de Gaza, Ismail Haniyeh.

"Jabari defendia a permanência de Meshal no comando do politburo. Sua morte enfraquece a candidatura dele e fortalece a atual liderança política de Gaza, com quem tinha divergências. Jabari não era uma figura política, mas, como militar, lutou para ficar fora da briga entre as duas facções", diz o cientista político Mkheimar Abu Saada, da Universidade Islâmica de Gaza.

Meshal, de 56 anos, transformou-se, nos últimos meses, em figura-chave para o futuro dos palestinos. Ele defendia a conciliação com o Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, na Cisjordânia.

"Ele queria um acordo, queria transformar o Hamas numa vertente da Irmandade Muçulmana egípcia como a de hoje no Cairo, política, islâmica e ativa no processo político. Mas Meshal perdeu influência quando, em 2007, o Hamas se viu às voltas com problemas da gestão de Gaza no dia a dia. Ele ficou isolado, acusado de desconhecer a realidade dos palestinos", explica o pesquisador Mouin Rabbani, do Instituto de Estudos Palestinos em Amã.

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Um ataque aéreo israelense matou ontem o comandante militar do grupo palestino Hamas, deflagrando a maior ofensiva na Faixa de Gaza desde a guerra de 2009.

Ahmed Jabari, 52 anos, foi atingido por um míssil quando circulava de carro na rua principal da cidade de Gaza. Um assessor que estava com ele também morreu.

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Após a morte de Jabari, Israel lançou ataques em vários pontos da Faixa de Gaza, atingindo outros líderes do Hamas e alvos militares como depósitos de armas, segundo o Exército, que ameaçou ampliar a ofensiva.

Horas depois do primeiro míssil, o Exército iniciou o recrutamento de reservistas, indicando que também considera uma ação por terra.

O movimento islâmico Hamas, que controla Gaza desde 2007, prometeu vingança. "Israel abriu as portas do inferno", disse o grupo num comunicado. Para Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas, a execução de Jabari é "uma declaração de guerra".

Considerado por Israel o chefe do Estado-Maior do Hamas, Jabari era a figura mais dominante de Gaza e sua morte é um duro golpe para o grupo islâmico.

Chefe do grupo Ezedin al Qasam, o braço armado do Hamas, Jabari muitas vezes mandava mais que a liderança política do grupo. Foi ele que deu as cartas no lado palestino da negociação que resultou na troca do soldado israelense Gilad Shalit por mais de mil prisioneiros, no ano passado.

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No entardecer, o horizonte alaranjado de Gaza era uma sucessão de focos de incêndio e fumaça, demarcando os mais de 30 ataques israelenses em poucas horas.

Mortos

Ao todo, pelo menos nove palestinos foram mortos. Segundo a agência de notícias palestina Maan, duas crianças morreram nos ataques.

O Exército israelense anunciou que entre os alvos atingidos estão mísseis de médio alcance, capazes de chegar até Tel Aviv.

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, indicou que os ataques de ontem são só o começo. "Mandamos uma mensagem clara ao Hamas e a outras organizações terroristas", disse.

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Em plena campanha para a reeleição de janeiro, Netanyahu ganha pontos com o público israelense ao tirar de cena o principal líder do Hamas. "Jabari é o Bin Laden de Netanyahu", comparou Avi Benayahu, ex-porta-voz do Exército israelense.