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O gabinete de segurança do governo de Israel aprovou neste domingo uma série de medidas para “evitar o colapso da Autoridade Palestina”, que governa áreas limitadas da Cisjordânia e está muito enfraquecida para combater as milícias. “Na ausência de uma mudança na avaliação nacional, Israel atuará para evitar o colapso da Autoridade Palestina”, indicou o governo israelense em comunicado, ao explicar que a decisão foi tomada por uma maioria de 8 votos contra 1. Os ministros colonos e ultranacionalistas Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir, de Finanças e Segurança Nacional, respectivamente, garantiram anteriormente que seriam contra as medidas.
“Os serviços de segurança seguirão tomando medidas decididas para frustrar o terrorismo”, enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, “apresentarão ao gabinete de Segurança medidas para estabilizar a situação civil no setor palestino”, acrescenta o comunicado, sem detalhar quais são as medidas. O que se sabe é que o gabinete de Segurança exigirá aos líderes palestinos o “cessar de suas atividades anti-israelenses no campo jurídico, diplomático e internacional e da incitação na imprensa e no sistema educacional”. Além disso, irá cobrar que não sejam apoiadas financeiramente as famílias dos palestinos presos em penitenciárias israelenses por crimes relacionados a terrorismo e parar a construção de casas e infraestruturas na chamada Área C da Cisjordânia, que é controlada pelo exército de Israel.
Segundo a imprensa local, as medidas de segurança que o governo israelense adotaria para sustentar a Autoridade Nacional Palestina (ANP) seriam de natureza econômica, de segurança e de facilidades de deslocamento para civis, depois que altos funcionários de segurança de Israel alertaram a coalizão de governo sobre os perigos de uma possível queda do governo palestino. Segundo analistas, um colapso da ANP provavelmente criaria caos e um vácuo de poder na Cisjordânia, assim como uma oportunidade para que as milícias assumissem o controle, algo similar ao que aconteceu em Gaza, onde o Hamas governa de fato desde 2007.
O anúncio das medidas de Israel acontece depois que o exército do país realizar, na segunda e terça-feira passadas, uma operação no campo de refugiados de Jenin, bastião de milícias palestinas no norte da Cisjordânia, na maior incursão desde a Segunda Intifada, ocorrida de 2000 a 2005. Ao todo, 12 milicianos palestinos – entre eles, quatro menores – e um soldado israelense morreram durante a operação, que teve ataques por terra e ar, além da mobilização de mil militares, com o objetivo de desarticular a Brigada de Jenin, que reúne milícias de todas as facções unidas desde o ano passado, incluindo o Hamas e a Jihad Islâmica.
Diante das escassas oportunidades econômicas e de desenvolvimento que enfrentam os palestinos, além das restrições de movimento que Israel impõe, muitos jovens não enxergam mais saída além de se unir às milícias, o que é aproveitado por grupos extremistas para ganhar terreno diante de uma ANP enfraquecida e sem legitimidade. Essas milícias são consideradas por Israel como o maior foco de terrorismo na região.
O conflito entre Palestina e Israel atravessa neste ano o pior pico de violência em duas décadas. Ao todo, 160 palestinos morreram, seja por fogo do exército israelense, seja por ataques de colonos judeus e outros incidentes violentos na Cisjordânia. Por outro lado, a proliferação de novos grupos palestinos armados e o aumento de ataques também deixou 27 mortos do lado israelense, a maioria colonos.