Na quinta-feira (12), Israel negou a alegação de uma reportagem do site de notícias Politico, com sede em Washington, de que o país havia colocado dispositivos de vigilância de celulares em locais estratégicos em Washington, inclusive perto da Casa Branca.
De acordo com a reportagem, que citou três ex-autoridades americanas de alto escalão "com conhecimento do assunto", que não foram identificadas, o equipamento - dispositivos que imitam torres de celular, fazendo com que os celulares forneçam sua localização e informações de identidade - foi descoberto há algum tempo.
No entanto, Israel não sofreu repreensão ou consequências pela suposta ação, e a reportagem apontou que a violação foi minimizada devido aos laços excepcionalmente fortes entre o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
A reportagem chega em um momento delicado. Os israelenses voltarão às urnas na próxima semana para uma segunda eleição geral este ano, e Netanyahu luta para manter seu cargo. Também nesta semana Trump parece estar rompendo com a narrativa firme do líder israelense sobre o Irã, indicando a possibilidade de se encontrar com o presidente iraniano Hassan Rouhani.
Netanyahu tem sido agressivo em seu lobby com Trump, pedindo que ele saísse do polêmico pacto nuclear de 2015 com o Irã e constantemente pressionando os Estados Unidos para que aumentem as sanções econômicas contra seu arqui-inimigo regional.
Na semana passada, Netanyahu passou um dia em Londres, onde se reuniu com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Ele também visitou o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, para discutir, segundo ele, a presença iraniana no Oriente Médio, particularmente na fronteira norte de Israel. Na quinta-feira, Netanyahu foi a Sochi, na Rússia, para se encontrar com o presidente Vladimir Putin.
"Estamos operando em várias frentes a fim de garantir a segurança de Israel diante das tentativas do Irã e de seus aliados de nos atacar, e estamos trabalhando contra eles", disse o líder israelense em sua partida.
Após a publicação da reportagem do Politico, Netanyahu disse que as alegações eram "uma mentira absoluta". "Há um compromisso de longa data e uma diretiva do governo israelense de não se envolver em nenhuma operação de inteligência nos EUA. Esta diretiva é rigorosamente aplicada sem exceção", disse um comunicado do gabinete de Netanyahu.
O ministro de Relações Exteriores e Inteligência de Israel, Israel Katz, também negou que Israel tivesse instalado dispositivos de escuta nos Estados Unidos. "Israel não realiza operações de espionagem nos Estados Unidos", disse ele em comunicado. "Os EUA e Israel compartilham muitas informações de inteligência e trabalham juntos para evitar ameaças e fortalecer a segurança de ambos os países".
Amos Yadlin, ex-chefe da inteligência militar israelense, escreveu no Twitter que a reportagem era "uma notícia falsa com uma pitada de anti-semitismo". "A política de Israel há décadas proíbe inequivocamente a espionagem nos Estados Unidos. Acho muito difícil acreditar que essa política tenha mudado", escreveu ele.
Charles Freilich, ex-consultor de segurança nacional em Israel e analista de relações EUA-Israel também disse que o relato é provavelmente falso. "Relatos 'dramáticos' de espionagem israelense nos EUA surgem de vez em quando, quando alguém do governo não gosta de Israel ou de uma política israelense e tenta se aproveitar de suspeitas nos Estados Unidos, desde Jonathan Pollard, para sabotar o relacionamento", disse ele. "Isso é pura bobagem, Israel aprendeu uma dura lição com Pollard e tomou uma decisão clara de nunca arriscar o relacionamento tão severamente novamente."
Pollard era um ex-analista da Marinha dos EUA que foi considerado culpado de espionar para Israel nos anos 1980 e passou três décadas na prisão. Ele foi libertado em 2015 pelo presidente Barack Obama, mas seu destino continua sendo uma fonte de constrangimento para os israelenses. Os Estados Unidos continuam a recusar o pedido dele de imigração para Israel.
O escopo completo das atividades de Pollard nunca foi totalmente divulgado, mas, de acordo com uma carta escrita pelo então secretário de Defesa Caspar Weinberger ao juiz que presidiu o caso, Pollard foi descrito como um dos espiões mais prejudiciais que já operaram nos Estados Unidos.
No entanto, relatos não confirmadas ao longo dos anos indicam que Pollard nunca foi recrutado como espião, mas se voluntariou para o trabalho depois de ser apresentado a um oficial militar israelense em Nova York em 1984. Mais tarde, ele disse aos colegas que havia sido "cultivado" pelo Mossad, a agência de inteligência de Israel, para espionar os Estados Unidos.
Acredita-se que, enquanto trabalhava no Centro de Inteligência Naval para Contraterrorismo em Maryland, Pollard entregou arquivos aos israelenses, incluindo documentos relacionados a tropas árabes, a Organização de Libertação da Palestina e programas de guerra química e biológica realizados por Iraque, Líbia e Síria.
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