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O governo de 12 anos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Israel pode estar chegando ao fim, enquanto os seus rivais buscam um acordo que envolve partidos ideologicamente opostos para formar um governo nos próximos dias e acabar com um impasse político que se arrasta há dois anos no país. Nesta segunda-feira, Netanyahu e seus aliados tentaram evitar que partidos de oposição finalizassem o acordo.
A tarefa de formar um novo governo até a quarta-feira (2) está a cargo de Yair Lapid, do partido de oposição Yesh Atid, que se descreve como centrista e secular. Ele recebeu a missão do presidente Reuven Rivlin depois que Netanyahu não conseguiu reunir a maioria necessária para o governo.
No domingo, o líder do partido de direita nacionalista Yamina, Naftali Bennett, aceitou uma proposta para fazer parte da coalizão negociada por Lapid. Caso a coalizão seja concretizada, será o fim da sequência de eleições em Israel - foram quatro nos últimos dois anos. Bennet, que foi ministro de Defesa de Netanyahu, defendeu sua decisão dizendo que é preciso evitar que o país precise de uma quinta eleição.
Lapid e Bennet concordaram em um acordo de divisão de poder nos próximos quatro anos no qual haverá um revezamento no papel de primeiro-ministro. Bennet seria o primeiro-ministro por um período pré-determinado antes de Lapid, segundo a imprensa local. O partido apoiou o acordo fechado por seu líder.
Netanyahu chamou o plano de coalizão de "um perigo para a segurança de Israel" e pediu que políticos nacionalistas não participassem do que chamou de "governo esquerdista". Em comentários transmitidos pela televisão no domingo, o premiê acusou Bennet de cometer "a fraude do século".
Seus apoiadores acusaram os ex-aliados que planejam entrar na coalizão de "traidores". Houve protestos em frente às casas de alguns políticos.
Nesta segunda-feira (31), os partidos se reuniram para debater as negociações. Durante a reunião do seu partido, Lapid disse que a formação de governo enfrenta "grandes obstáculos". Ele afirmou ainda que os vários membros da coalizão anti-Netanyahu buscam "consensos em nome do objetivo maior".
Até hoje, nenhum partido conquistou a maioria dos 120 assentos do Knesset, o Parlamento de Israel. Por isso, os partidos precisam negociar para formar uma coalizão com pelo menos 61 assentos.
O Likud, partido de Netanyahu, conquistou o maior número de assentos nas eleições de 23 de março e teve 28 dias para formar um governo. O Yesh Atid ficou em segundo lugar, com 17 assentos. A coalizão que está sendo negociada reúne o Yamina, de Bennet, que conquistou seis assentos, e aliados do Yesh Atid que incluem nacionalistas, liberais e um pequeno partido islamista.
As conversas para fechar um acordo, incluindo como ficaria a distribuição de ministérios, se estenderam até as primeiras horas da segunda-feira. Uma proposta formal deve ser apresentada ao presidente Reuven Rivlin. O parlamento tem até uma semana para aprovar o acordo de coalizão.
Fora do governo e sem imunidade judicial, Netanyahu terá de responder a acusações de corrupção na Justiça. Conhecido por sua habilidade de costurar acordos políticos e sobreviver no cargo mesmo diante dos cenários mais improváveis, Netanyahu ainda tenta uma última cartada: dividir o cargo de premiê com Bennet. "Um governo de direita ainda é possível", disse Netanyahu após o anúncio da oposição. Analistas, no entanto, creem que a possibilidade disso ocorrer é pequena.