O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deixa tribunal em Jerusalém durante julgamento sobre casos de corrupção, 5 de abril| Foto: Abir SULTAN / POOL / AFP
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Enquanto as lideranças políticas de Israel se reúnem para negociar a formação de um governo e tentar colocar um fim à crise política no país, o julgamento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi retomado nesta segunda-feira, 5. O premiê é acusado de corrupção, fraude e abuso de poder em três casos.

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As audiências do julgamento foram repetidamente adiadas nos últimos meses por causa da pandemia de Covid-19, mas puderam ser reiniciadas em Jerusalém após a flexibilização das medidas de contenção da pandemia. O processo é considerado fundamental para a sobrevivência política do premiê.

Há 15 anos no poder, Netanyahu é o primeiro chefe de governo da história de Israel a ser julgado durante o exercício do cargo. O primeiro-ministro está sendo julgado em três casos distintos. Em dois deles é acusado de tentar garantir coberturas favoráveis em meios de comunicação locais em troca de favores do governo. No terceiro caso, Netanyahu e membros de sua família são suspeitos de terem recebido presentes - charutos de luxo, garrafas de champanhe e joias - de famosos em troca de favores financeiros ou pessoais.

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Netanyahu se diz inocente das acusações de suborno, fraude e abuso de poder, afirmando que não passam de uma "caça às bruxas" para tirá-lo do governo. Ele compareceu ao tribunal em Jerusalém de máscara, sendo recebido por manifestantes antigoverno e apoiadores, e permaneceu na sessão por cerca de uma hora, saindo antes dos depoimentos das testemunhas começarem.

A promotoria acusa o primeiro-ministro mais longevo de Israel de usar "o grande poder do governo que lhe foi conferido para, entre outras coisas, demandar e obter benefícios impróprios dos donos de importantes mídias de Israel para avançar seus assuntos pessoais".

"A relação entre Netanyahu e os réus tornou-se uma moeda de troca, algo que podia ser negociado", afirmou a promotora Liat Ben Ari em seu discurso inicial. "Isso pode distorcer o bom-senso de um servidor público."

Formação de governo

Em paralelo, o presidente Reuven Rivlin deu início às consultas com lideranças partidárias após as eleições do mês passado. No início das negociações, o recado do presidente foi claro: não há, a seu ver, um caminho evidente para a formação de um novo governo neste momento, deixando o país em risco da quinta eleição desde 2019.

"Eu não vejo um caminho que resulte na formação de um governo", Reuvlin disse a representantes do Yesh Atid. "O povo de Israel deve estar muito preocupado com a possibilidade de uma quinta eleição."

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O direitista Likud, de Netanyahu, conquistou 30 cadeiras na Knesset, o Parlamento israelense - 31 a menos que o necessário para formar a maioria. Já o Yesh Atid, a segunda sigla mais votada, comandada pelo líder da oposição, Yair Lapid, obteve 17.

Representantes do Likud afirmam que só apoiarão um governo encabeçado pelo premiê. Rivlin, por sua vez, sinaliza que "considerações éticas" - uma referência às acusações enfrentadas pelo chefe de governo - podem afetar sua decisão. Já o Yesh Atid afirma que só apoiará um governo encabeçado por Lapid, apesar de suas chances quase nulas de formar uma coalizão.

Netanyahu busca o apoio do nacionalista de direita Naftali Bennett, que comanda o Yamina, e tem sete cadeiras. Mesmo com o apoio das siglas religiosas associadas à direita que tem como aliadas, não chegaria aos assentos necessários.

O bloco que pode fazer a diferença é a Lista Árabe Unida, que defende uma solução de dois Estados para a questão israelo-palestina, e tem no islamismo político uma de suas bases. Seu líder, Mansur Abbas, rompeu com a tradicional coalizão de siglas árabes, a Lista Unida, e disse que poderia trabalhar em um novo governo com Netanyahu. Ambas as siglas ainda não se aliaram a nenhum grupo.

Caso 4.000

Os procedimentos do julgamento desta segunda-feira, 5, são centrados no chamado Caso 4.000, no qual Netanyahu é acusado de apoiar legislações que favoreceriam a gigante midiática Bezeq em troca de cobertura positiva no site de notícias do grupo, o Walla.

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Em janeiro, procuradores apresentaram 315 casos em que se pediu para o site amenizar o tom da cobertura sobre o premiê e sua família - 150 deles envolveriam Netanyahu diretamente. O diretor executivo da Bezeq, Shaul Elovitch, afirma a acusação, exerceu "pressão pesada e contínua" em seu ex-editor-chefe, Ilan Yeshua, para mudar reportagens.

"Os Elovitches me pediram para não deixar os editores saberem que a razão para os pedidos era relacionada com mudanças regulatórias iminentes", disse Yeshua, afirmando ter sido "inundado" pelas demandas vindas da chefia da Bezeq e que os pedidos causavam brigas diárias na redação.

Durante o depoimento, a mulher de Shaul Elovitch, Iris, que também nega as acusações, interrompeu Yeshua, gritando: "Quantas mentiras você pode contar?".

Em paralelo, Netanyahu é acusado também de ter recebido charutos, champanhe e joias no valor de 700 mil shekels (US$ 197 mil) de pessoas ricas em troca de favores financeiros ou pessoais. Ele também é julgado por supostamente tentar orquestrar a cobertura favorável em um dos principais jornais do país, o Yedioth Ahronot, em troca de legislações que suspendessem a distribuição gratuita de um dos rivais da publicação, o Israel Hayom.

O julgamento, que começou ano passado, pode durar até dois anos. Se for condenado por suborno, o premiê fica sujeito a penas de dez anos de prisão. As condenações por fraude e abuso de poder, por sua vez, podem lhe render até 3 anos de reclusão.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]