Jerusalém (AFP) Escandalizado pelas declarações do presidente iraniano, Mahmud Ajmadinejad, sugerindo que a Alemanha e a Áustria deveriam receber o Estado israelense em seu território e negando o Holocausto sofrido pelos judeus, o governo de Israel pediu ontem que a comunidade internacional se mobilize contra o Irã. O Estado hebreu, que foi qualificado na quinta-feira de "tumor" pelo presidente iraniano, considera cada vez mais o Irã como uma ameaça direta para sua segurança e o acusa de querer ter acesso a armas nucleares sob a cobertura de um programa nuclear civil.
Estes temores, reavivados em outubro pela afirmação de Ajmadinejad de que Israel devia ser "varrido do mapa", voltaram a surgir na quinta-feira quando o governante iraniano sugeriu que Israel seja transferido para um "pedaço de terra" na Europa, mais especificamente na Alemanha e na Áustria, que, segundo o iraniano, são os paí-ses que se sentem culpados pelo extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
O ministro israelense da Defesa, Shaul Mofaz, de origem iraniana, considerou que as afirmações de Ajmadinejad demonstram que "o regime iraniano, além de ser extremista e de querer erradicar o Estado de Israel, é um regime racista". "O mundo não apenas deve condenar estas afirmações, mas redobrar os esforços contra a corrida iraniana rumo ao armamento nuclear", disse Mofaz à imprensa israelense.
Alarme
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Sylvan Shalom, afirmou que as declarações do chefe de Estado iraniano são um "sinal de alarme". Shalom pediu aos europeus e à Rússia que se unam aos EUA para apresentar urgentemente a questão do programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Negacionista do Holocausto", acusou ontem o jornal Yediot Aharonot, ressaltando a indignação em Israel e no mundo ocidental. "Lamentavelmente, não é a primeira vez que o dirigente iraniano manifesta opiniões escandalosas e racistas em relação aos judeus e Israel", declarou Mark Regev, porta-voz do ministério das Relações Exteriores. "Há algum tempo, a Assembléia Geral da ONU adotou por unanimidade uma resolução condenando aqueles que negam a Shoah (o genocídio cometido pelos nazistas), e nós temos atualmente outro exemplo da conduta do dirigente iraniano, contrária à comunidade internacional", acrescentou. "Espero que estas declarações escandalosas despertem e mobilizem aqueles que ainda têm ilusões sobre a natureza do regime no Irã", disse Regev.
Nuclear
A comissária de Relações Exteriores da União Européia, Benita Ferrero-Waldner, advertiu ontem, em Bruxelas, que as polêmicas declarações do presidente iraniano sobre Israel ameaçam as negociações de Teerã com os europeus sobre os projetos nucleares do Irã. "Isso questiona todas as negociações sobre a questão nuclear, em particular sobre o tema do enriquecimento de urânio", disse Ferrero-Waldner. "Os líderes e o povo iranianos devem entender que declarações deste tipo só podem gerar preocupação sobre o papel e as intenções do Irã na região", afirmou ela.
Silêncio
Enquanto chovem críticas ao Irã, tanto a classe política quanto a imprensa do mundo árabe mantiveram silêncio, ontem, sobre as declarações de Ahmadinejad, que qualificou Israel de "tumor" e justificou o revisionismo que nega o Holocausto.
O jornal libanês Orient-Le Jour foi o único a comentar estas declarações que motivaram uma onda de indignação na Europa. "O presidente iraniano escandaliza o mundo todo com suas declarações. Depois de dizer em alto e bom som que é preciso varrer Israel do mapa, nesta quinta-feira fez uma nova proposta aos ocidentais", escreveu o diário libanês.