Os Estados Unidos e Israel assinaram nesta sexta-feira (16) um acordo que tem como objetivo garantir que os militantes do Hamas não se rearmem após o Estado judeu declarar um cessar-fogo unilateral na Faixa de Gaza. O "memorando de entendimento", como foi definido pela secretária de Estado americana Condoleezza Rice, foi assinado nesta sexta em Washington por ela e pela ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni. Segundo o acordo, assinado apenas entre os dois países, as tropas israelenses poderão permanecer no território palestino após Israel declarar o cessar-fogo unilateral. Israel poderá declarar o cessar-fogo unilateral neste sábado, quando ocorrerá uma reunião do gabinete de governo.
"As forças israelenses permanecerão em Gaza após o processo de trégua unilateral", disse um funcionário graduado do governo israelense, sob anonimato, em Jerusalém. O líder do Hamas disse que o grupo não concorda em assinar um cessar-fogo sob as condições de Israel.
"O gabinete de segurança deverá votar em favor de um cessar-fogo unilateral no encontro deste sábado, depois da assinatura do memorando em Washington e do significativo progresso feito no Cairo", disse o funcionário israelense. A votação ocorrerá na noite do sábado. Segundo o funcionário, Israel suspenderá os ataques após a declaração da trégua unilateral, mas poderá retomá-los se o Hamas disparar foguetes contra seu território.
Segundo a Rádio Israel, o Egito sediará um encontro sobre a trégua no domingo, do qual participação funcionários israelenses e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que nesta sexta esteve na Turquia. Segundo a televisão israelense, Livni e o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert participarão do encontro.
Já em Washington, no Departamento de Estado, Livni descreveu o acordo israelo-americano como "um complemento vital ao fim das hostilidades", na problemática região. Segundo ela, o acordo entre Israel e os EUA é "um complemento às ações do Egito e para acabar com o contrabando de armas à Faixa de Gaza".
Sob a proposta egípcia de cessar-fogo, a luta seria interrompida imediatamente por dez dias, mas as forças israelenses permaneceriam na Faixa de Gaza e nos cruzamentos de fronteira até que detalhes específicos sejam elaborados para a segurança nas passagens com o Egito e Israel. O objetivo deste ponto é garantir que o Hamas não contrabandeie armas para o território.
O documento assinado nesta sexta, com duas páginas e meia, ressalta o papel que os EUA terão nesse processo, ao garantir a Israel o fornecimento de equipamento de vigilância e detecção, ajuda logística e de treinamento a Israel, ao Egito e outras nações que possam ser envolvidas no monitoramento das fronteiras marítimas e terrestres da Faixa de Gaza.
Rice e o porta-voz do Departamento de Estado do governo americano, Sean McCormack, disseram que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, que tomará posse na próxima terça-feira, e a secretária de Estado designada, Hillary Rodham Clinton, já foram consultados sobre detalhes do acordo assinado nesta sexta-feira. Israel e os EUA teriam concordado em assinar o acordo na noite de ontem, após negociações frenéticas para aplacar os temores israelenses de que com um cessar-fogo o Hamas seria capaz de se rearmar.
Livni e Rice disseram esperar que os países europeus trabalhem em acordos semelhantes com Israel.
Falando aos repórteres mais cedo, Rice disse que o acordo "deverá ser um dos elementos que tentarão levar o processo a um cessar-fogo duradouro, um cessar-fogo que possa ser mantido".
"Nós vemos isso (o acordo de hoje) como parte um amplo esforço internacional para compartilhar informações" em como lidar com contrabando de armas, ela disse.
Cerca de 1.150 palestinos foram mortos desde que a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza começou em 27 de dezembro do ano passado, incluídas 346 crianças, segundo a ONU e funcionários dos serviços médicos no território palestino. Nesta sexta-feira, o número de palestinos mortos cresceu em 38, incluídos os corpos de 25 pessoas mortas em bombardeios nos dias anteriores e que estavam em meio a ruínas de prédios e outras seis que morreram de ferimentos recebidos nos últimos dias. Treze israelenses foram mortos, quatro pelo disparo de foguetes do Hamas.
Enscontro no Catar e reação turca
O líder do Hamas, Khaled Meshaal, disse nesta sexta que o movimento islâmico não aceita as condições de Israel para uma trégua na Faixa de Gaza.
"Eu asseguro: apesar de toda a destruição em Gaza, não aceitaremos as condições de Israel para um cessar-fogo", disse ele em Doha, Catar.
Já o ministro de Assuntos Externos do Catar, Ahmed Bin Abdallah al-Mahmmoud, disse que seu país suspendeu suas relações diplomáticas com Israel por causa da ofensiva na Faixa de Gaza. O comunicado foi feito como parte de um anúncio durante uma reunião de cúpula de emergência de países árabes realizada nesta sexta-feira em Doha para discutir o conflito no Oriente Médio. O Egito e a Arábia Saudita boicotaram a cúpula.
Al-Mahmoud disse que os presentes a reunião elogiaram a medida tomada pelo Catar, que acompanhou a decisão da Mauritânia, que nesta manhã suspendeu suas relações diplomáticas com Israel pela mesma razão.
O primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Catar, xeque Hamad bin Jassem Al Thani, chamou a medida de decisão "soberana".
A Mauritânia tinha relações diplomáticas plenas com Israel. O Catar tinha um tratado de comércio e ligações políticas em níveis inferiores.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta sexta-feira, em Ancara, que Israel deveria ser barrado das Nações Unidas enquanto ignorar os pedidos da entidade para interromper a ação militar na Faixa de Gaza. Erdogan fez as declarações durante visita do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a Ancara para discutir o conflito.
"Como tal país, que não implementa as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, pode passar pelos portões da ONU?", questionou Erdogan. Os comentários refletem o crescente descontentamento da Turquia, país mais próximo de Israel no mundo muçulmano, com a operação israelense em Gaza. Erdogan disse que a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza é uma "selvageria". O chanceler da Turquia, Ali Babacan, descartou no entanto o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.