Soldados israelenses inspecionam a área do festival onde os terroristas do Hamas mataram 260 pessoas| Foto: EFE/EPA/MARTIN DIVISEK
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Cânticos judaicos foram entoados nesta sexta-feira (13) no cemitério do Monte Herzl, em Jerusalém, durante o enterro de centenas de soldados de Israel que morreram na guerra contra o Hamas, com a presença de milhares de pessoas carregando velas brancas envoltas em bandeiras do país.

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Rabinos de barba branca, cidadãos laicos com coroas de flores e soldados segurando suas armas, incapazes de conter as lágrimas, rezaram juntos ao redor das sepulturas recém-escavadas para os soldados abatidos, que no sétimo dia de guerra já são 258 entre os mais de 1,2 mil mortos em Israel.

"Você morreu como um herói, herói de Israel!", disse, chorando, uma soldado uniformizada, ao lado de um corpo que era baixado à sepultura.

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Recrutas de todas as idades e de todos os cantos do país estão sendo enterrados nesse cemitério militar há alguns dias.

Seus caixões, envoltos na bandeira nacional, são enterrados por seus companheiros sobreviventes com sacos de terra dispostos na forma de uma trincheira de guerra. No final dos funerais, tiros são disparados para o ar.

Trauma

"Sou um soldado de 40 anos, já vi guerras, mas nunca vi nada parecido com isso, terrorismo como esse", relatou um militar à Agência EFE, sob condição de anonimato, porque não estava autorizado a falar com a imprensa.

Ele se referia ao ataque terrorista realizado pelo Hamas na manhã do último sábado (7), em pleno shabat - dia sagrado para os judeus - que pegou Israel de surpresa com o disparo de milhares de foguetes a partir da Faixa de Gaza e a infiltração de mais de mil combatentes em cidades israelenses que fazem fronteira com o território palestino e nas quais massacraram e sequestraram civis.

Corpos de mulheres, crianças e idosos ficaram espalhados ao lado de suas casas destruídas ou no meio do deserto, muitos deles mutilados e queimados. Imagens traumáticas com as quais Israel ainda não consegue se conformar.

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"Coisas como essa são proibidas até mesmo em pensamento, em intenção, é algo que qualquer pessoa que tenha humanidade conhece naturalmente", disse Chaim Polishouk, judeu ultraortodoxo de 47 anos que oferece a quem passa rezar com o filactério, duas pequenas caixas contendo passagens da Torá, uma colocada na cabeça e outra enrolada no braço.

"Não sei como, mas ele [o filactério] faz com que os inimigos de Israel sintam medo", declarou.

Unidos

Todos os túmulos militares, sem exceção, têm uma coroa multicolorida de flores, e aqueles que já foram selados com lápides exibem a foto - quase sempre de um jovem sorridente - da pessoa que o ocupa. Em um mausoléu, havia balões com o formato do número 26, idade que o soldado não completou.

Atrás da cerca de metal que separava os parentes mais próximos dos mortos, milhares de israelenses, que participaram dos funerais sem conhecer as vítimas, se abraçavam e rezavam.

"Sentimo-nos muito tristes, mas também muito fortes. Somos os escolhidos por Deus para liderar Israel", disse Eli Gertler, um tenente-coronel de 80 anos e organizador voluntário dos funerais.

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"Não tenho palavras para descrever como eram e como são os soldados e oficiais que perdi nessa guerra, porque para mim eles não estão mortos, eles ainda vivem conosco", lamentou, com a voz embargada, o veterano condecorado cinco vezes, que lutou na Guerra dos Seis Dias de 1967, entre Israel e um bloco de países árabes.

O ataque do Hamas pegou Israel em um momento frágil, em meio a uma profunda crise política e polarização social causada pelas políticas do governo de Benjamin Netanyahu e aliados ultranacionalistas - alguns colonialistas e antiárabes - e ultraortodoxos.

Com o argumento de que a democracia estava comprometida, milhares de soldados se rebelaram e se recusaram a se apresentar como reservistas.

"Mas essa guerra uniu todo o povo de Israel com um único desejo: chega de Hamas em Gaza, chega de conflito em Israel, que nossos mortos não sejam em vão", disse um soldado, anonimamente, usando um quipá e segurando um fuzil.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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