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Famílias palestinas que perderam suas casas na Faixa de Gaza: taxa de crescimento da população muçulmana é maior que a de judeus | Said Khatib/AFP
Famílias palestinas que perderam suas casas na Faixa de Gaza: taxa de crescimento da população muçulmana é maior que a de judeus| Foto: Said Khatib/AFP

Bombardeios atingem bases do Hamas

Aviões e navios de guerra de Israel atacaram mais de duas dezenas de posições do Hamas ontem, atirando contra depósitos de armas, centros de treinamento e casas de líderes do grupo palestino.

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"Estamos condenados a viver sob a espada"

Um dos mais controversos historiadores de Israel, Benny Morris, da Universidade Ben Gurion, transformou-se numa figura com quem ninguém quer falar. Os israelenses acusam-no de odiar o país, e os árabes de ser parcial e contar apenas os capítulos da História que lhe convêm. Mesmo autores considerados "revisionistas", como Ilan Pappé, criticaram sua última obra — "1948, a história da primeira guerra árabe-israelense". Aos 60 anos, Morris parece não se incomodar com críticas e deixa escapar paixão e intensidade pouco vistas no meio acadêmico quando o assunto é o conflito árabe-israelense. Morris nasceu num kibutz e foi ativista de movimentos juvenis de esquerda, recusando-se a prestar serviço militar nos territórios palestinos. Os paradoxos o acompanham e suas opiniões podem confundir um leitor desatento. Ele defende os bombardeios a Gaza e chama o Hamas de "anormal" e diz que não há solução para o conflito.

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Jerusalém - Maior força bélica do Oriente Médio e dono de um arsenal que inclui as últimas novidades tecnológicas e até armas nucleares — além de contar com o apoio incondicional da superpotência norte-americana — Israel não tem tido motivos sérios para se preocupar com sua sobrevivência, após ter vencido a Guerra de Independência contra os árabes em 1948. Uma única "arma", no entanto, ameaça acabar com essa segurança e pode pôr em risco a existência do Estado judeu: a "bomba demográfica".

Segundo a maioria das previsões, as altas taxas de crescimento das populações árabe-israelense e palestina farão com que, possivelmente em alguns anos, os judeus se tornem minoria na região compreendida pelos territórios de Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza — que Israel controla em sua totalidade desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Para muitos em Israel, essa tendência demográfica está acendendo o sinal amarelo.

O raciocínio é simples: se um Estado palestino não se materializar, atendendo às expectativas de parte significativa da população de origem árabe que ficou sem um país em 1948, os palestinos podem simplesmente abrir mão de suas reivindicações nacionais e começar a exigir sua incorporação a Israel com os mesmos direitos dos outros cidadãos judeus e árabes-israelenses. Seria um modelo de Estado binacional como a Bélgica, onde flamengos e valões dividem o mesmo país, ou o Canadá, partilhado entre canadenses de fala inglesa e francesa.

"Os palestinos serão demograficamente dominantes. Estamos tendo a última janela para a solução de dois Estados. Se não conseguirmos agora, vamos deixar um problema insuportável para as futuras gerações", opina Matti Shteinberg, professor do Centro Interdisciplinar de Hertzlya e da Universidade Hebraica de Jerusalém e ex-assessor sênior do Shin Bet, o serviço secreto de Israel.

Os números

A matemática que inquieta os israelenses é de fácil entendimento. Em Israel, os cidadãos de origem árabe — que permaneceram no país após 1948 — são hoje 19,4% da população de 7,4 milhões. Em 1966, um ano antes de Israel incorporar os territórios palestinos, eles mal chegavam a 12%, segundo o historiador Tom Segev. Somados aos estimados 3,9 milhões de palestinos da Cisjordânia e de Gaza, os árabes já seriam 5,3 milhões, contra 5,5 milhões de judeus. As discrepantes taxas de crescimento das duas populações estão por trás dessa lenta virada da balança: entre os judeus, ela é de 1,7% ao ano, enquanto os árabes-israelenses aumentam a uma taxa de 2,5%; já entre os palestinos da Cisjordânia, a taxa de crescimento demográfico é de 2,2% ao ano, ao passo que em Gaza é ainda maior, chegando a 3,4%.

Numa demonstração da importância do fator demográfico no conflito, os números se tornaram armas ao lado dos foguetes Qassam palestinos e dos caças F16 israelenses. Muitos em Israel minimizam a dita ameaça do crescimento populacional árabe-israelense e palestino, apoiando-se sobretudo em estudos do Grupo de Pesquisa Demográfica Americano-Israelense, que acusa a Autoridade Nacional Palestina de inflacionar a população dos territórios em 1,1 milhão de habitantes.

Ainda assim, os últimos governos de Israel manifestaram a crença de que a demografia é uma bomba-relógio que mais dia menos dia acabará estourando, com consequências imprevisíveis. A decisão de Ariel Sharon de retirar Israel unilateralmente de Gaza, em 2005, foi determinada em grande parte pela vontade de manter o caráter judaico e democrático do país, que dessa forma ficaria com menos palestinos sob ocupação direta. Não coincidentemente, o jornal Haaretz afirmou que, naquele ano, o total de árabes já teria ultrapassado o número de judeus em Israel e nos territórios. Para manter o comando como minoria, aos judeus não restaria outra saída a não ser institucionalizar um regime de segregação racial como o apartheid sul-africano.

"Mesmo líderes de direita como Sharon e Olmert finalmente entenderam que precisam de uma solução de dois Estados", avalia a historiadora Sarah Ozacky-Lazar, do Instituto Van Leer de Jerusalém, deixando em aberto a possibilidade de avanços na direção da paz mesmo no caso de vitória do falcão Netanyahu, do direitista Likud, nas eleições de fevereiro em Israel.

A solução de um Estado binacional vai contra os fundamentos ideológicos do moderno Israel, fundado em 1948 ao final de mais de meio século de lutas como uma pátria para os judeus. E, se entre os israelenses judeus é uma opção que aterroriza a maioria — pois faria o relógio da História andar para trás — entre os palestinos, tampouco é uma solução atraente, já que há décadas eles aspiram por ver realizado seu desejo maior: ter seu próprio Estado. Mas o impasse nas negociações de paz e a falta de luz no fim do túnel para um conflito que se arrasta há 60 anos podem mudar a situação entre os palestinos.

"Cada vez mais se fala de uma solução binacional ou de um Estado federalizado. Os palestinos, sobretudo os intelectuais, são cada vez mais favoráveis a essa ideia", explica Arye Katzovich, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Hebraica.

Ele alerta para o perigo que Israel corre se não se apressar em realizar a solução dos dois Estados. "Se não deixar os territórios, Israel vai acabar como Estado judeu e democrático."

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