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O parlamento de Israel confirmou nesta quarta-feira (22) que o país terá a quarta eleição em dois anos. O prazo para a aprovação de um novo orçamento acabou à meia-noite (horário local), forçando o legislativo a se dissolver e automaticamente desencadeando novas eleições, que serão realizadas em 23 de março.
O fracasso em alcançar um orçamento causa o colapso do atual governo de Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu principal rival, Benny Gantz, formaram sua coalizão em maio para enfrentar os desafios da crise do coronavírus.
No entanto, a parceria foi atormentada por desconfiança e brigas internas. As pesquisas de opinião indicam que, se as eleições fossem realizadas hoje, Netanyahu enfrentaria uma dura ameaça de um trio de ex-aliados descontentes que compartilham sua ideologia, mas se opõem ao seu estilo pessoal de governo – embora o próprio Gantz esteja muito mais enfraquecido do que Netanyahu.
O que mudou da última eleição para cá?
A última eleição em Israel ocorreu em março deste ano. O Likud, partido do primeiro-ministro, ganhou o maior número de cadeiras do Knesset, o parlamento israelense, mas o bloco da direita não conseguiu cadeiras suficientes para ter a maioria das 120 vagas do parlamento. Por isso, e tendo em vista a emergência da pandemia de Covid-19, Netanyahu formou uma aliança com o partido centrista Azul e Branco, de Gantz. No acordo entre as partes, haveria um rodízio no posto de primeiro-ministro, e Gantz deveria assumir o cargo em novembro de 2021.
Embora em um primeiro momento a dissolução do parlamento pareça uma estratégia de Netanyahu para convocar novas eleições e não ceder o poder a Gantz, o primeiro-ministro israelense se encontra em uma situação política delicada.
O Likud ainda é o partido que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de opinião atuais e, desta vez, não precisará se preocupar muito com Gantz, que viu sua popularidade despencar depois de entrar para o governo. Contudo, Netanyahu está ameaçado principalmente pela perda de apoio de partidos de direita que se desgarraram do governo.
Um dos nomes mais importantes é o de Gideon Saar, ex-ministro da Educação, que se desligou do Likud para formar um novo partido de direita, o Tikva Hadasha (Nova Esperança), que aparece na segunda posição nas pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta terça-feira.
O Yamina, da direita religiosa, também pode abandonar Netanyahu. Seu líder, Naftali Bennett, já falou que o objetivo do partido é "substituir" o atual primeiro-ministro, embora não tenha descartado completamente a possibilidade de uma parceria com o Likud. O Yamina tem 5 cadeiras no parlamento atualmente, mas as pesquisas de opinião indicam, até agora, que o partido está crescendo.
Se esses partidos se juntarem ao Azul e Branco, ao Yisrael Beytenu (direita secular) e outros partidos menores que são contra mais um governo de Netanyahu, podem chegar bem perto de conseguir a maioria dos assentos do Knesset. Incluindo-se na conta os partidos de maioria árabe e de esquerda, a coalizão "anti-Netanyahu" poderia conquistar até 77 cadeiras do parlamento, segundo pesquisas.
Além disso, Netanyahu enfrenta problemas com a justiça e precisa se manter no cargo para garantir sua imunidade enquanto responde a três processos, nos quais é acusado de fraude, corrupção e abuso de confiança.