A cúpula política e militar de Israel vem realizando várias reuniões para avaliar qual será o rumo do Egito, seu vizinho e aliado desde os acordos de paz de 1979, sob a premissa estabelecida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu há seis meses: "a Primavera Árabe pode se converter em um inverno radical iraniano". Hoje, Netanyahu prefere não fazer declarações públicas sobre os últimos acontecimentos no Egito e sua possível influência em Israel. Mas o ex-Ministro da Defesa e atual deputado trabalhista Benjamin Ben Eliezer não vê o futuro egípcio com otimismo: "O Egito, país que conheço bem há 20 anos, não será minimamente estável pelos próximos cinco. Devemos nos conscientizar da possibilidade de nos aproximarmos de um confronto com Israel", afirmou Ben Eliezer.

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De acordo com informações do jornal espanhol "El Mundo", o Ministério das Relações Exteriores israelense recebeu mensagens tranquilizadoras do Cairo. "O Egito está comprometido a garantir os acordos de paz e a situação não influenciará nas relações bilaterais", teriam dito as autoridades egípcias.

"Não se deve entrar em pânico, mas não existem dúvidas de que entramos em uma grande fase de incertezas", afirmaram fontes israelenses ao jornal "Yedioth Ahronoth".

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Como muitos analistas, as fontes temem que o Egito seja dominado pelas correntes islâmicas, encabeçadas pela Irmandade Muçulmana, que é próxima ao Hamas.

Temor é de que novo governo anule acordo de paz

Em declarações a uma rádio militar de Israel na quarta-feira, o ministro da Defesa Civil de Israel, Matan Vilnai, se mostrou preocupado com uma possível radicalização do movimento egípcio.

"A situação que vemos ali é muito sensível e preocupante. Nos preparamos para todo o cenário imaginável, mas no momento o panorama não é bom. Sempre que há esse tipo de protestos, existe o perigo de uma radicalização que muitas vezes o Irã pode aproveitar e promover", disse, acrescentando que a Irmandade pode comandar o país: "Aparentemente, o que chamamos de Irmandade Muçulmana vai acabar sendo a maioria em todas as instituições (egípcias)."

Vilnai disse, porém, não acreditar que a Irmandade tente anular o acordo de paz que rege as relações dos dois países há 32 anos imediatamente, já que o governo pós-revolução do Egito terá que lidar primeiro com os problemas internos do país. Esse acordo permitiu que Israel focasse seus recursos no combate a militantes palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e a guerrilheiros do Hezbollah, na fronteira com o Líbano.

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"Mas, uma vez que o regime esteja estabilizado, como esperamos que fique, acreditamos que vai haver uma grave erosão deste acordo. E nós temos que nos preparar para esta situação", disse, para logo depois acrescentar: "Nós estamos preparados para qualquer cenário."

Líderes da Irmandade Muçulmana já disseram que não buscam cancelar o acordo de paz com Israel. Entretanto, eles admitem que querem alguns ajustes no acordo, particularmente sobre a ausência do Exército do Egito na Península do Sinai, perto da fronteira israelense. Israel pode se mostrar flexível quanto a esse caso, pois o Egito poderia fazer a segurança da área e impedir que militantes atuem na região.

Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse a congressistas que "as chances são de que uma onda islâmica varra os países árabes; uma onda anti-ocidente, uma onda antiliberalismo." E o ex-ministro da Defesa e do Exterior, o conservador Moshé Arens resumiu em um artigo publicado no jornal israelense "Haaretz" o pensamento e o temor de muitos israelenses: "A queda dos ditadores árabes era inevitável, como é inevitável o que vai se seguir agora, o que parece um longo Inverno Árabe", escreveu.

Um experiente comandante israelense envolvido nas reuniões políticas sobre o Egito disse que existe consenso entre analistas de que, dada a difícil situação econômica do Egito, o país não cancelará o acordo de paz porque não poderia se dar ao luxo de abrir mão de seus benefícios. "Mesmo a Irmandade é pragmática" e o Exército continuará a desempenhar algum papel, por causa de sua influência estabilizadora.

Já Eli Shaked, ex-embaixador israelense no Egito, afirmou que em algum momento quando "os elementos radicais no Egito estiverem fortes no governo, eles vão retirar a sua "repulsão" assim que avistarem uma bandeira israelense no Cairo.

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"Eles estarão dispostos a pagar os preço econômico (da ruptura) das relações com Israel e Estados Unidos para promover sua agenda ideológica, política e islâmica - como ocorre em outros lugares como o Irã", afirmou Shaked.

Possível queda de Assad também preocupa

Os serviços de inteligência israelenses também seguem com muita atenção os acontecimentos na Síria. O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, prevê a queda do presidente Bashar al-Assad.

"Para mim está claro que o que aconteceu há algumas semanas com Kadafi e o que houve com Saddan Hussein poderia acontecer agora com o ditador Assad - disse Barak, que, perguntado sobre a sangrenta repressão de Damasco contra a oposição, respondeu: "Não há modo para que Assad possa retomar sua autoridade ou legitimidade sobre seu povo."

Por um lado, os israelenses confiam no fim do regime sírio ao acreditar que seria um duro golpe contra o Irã e enfraqueceria a conexão com o Hezbollah. Por outro, existe a preocupação com o "dia seguinte" e o possível vazio de poder na Síria que teria influências, mais cedo ou mais tarde, na fronteira com Israel.

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