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Em julho, um raro símbolo de entendimento entre israelenses e palestinos foi alvo de um ataque em Berlim.
O restaurante Kanaan, especializado nas culinárias judaica, palestina e alemã e chamado de “ilha de paz” pelos seus proprietários, o israelense Oz Ben David e o palestino Jalil Dabit, foi vandalizado: os invasores espalharam fezes pelo chão e nas paredes e quebraram móveis e garrafas do bar.
Nas redes sociais, os proprietários disseram que uma semana antes do ataque haviam realizado um brunch judaico-muçulmano, o que provavelmente irritou intolerantes. A polícia de Berlim apontou que se tratou de um ato de ódio, porque nada foi roubado.
“Apesar desse ataque covarde, queremos deixar uma coisa clara: o Kanaan não se acovardará diante de ameaças e ódio”, escreveram David e Dabit nas redes sociais.
Os sócios criaram uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para compensar os prejuízos, e em 24 horas conseguiram bater a meta de 15 mil euros (cerca de R$ 90 mil).
A campanha continua no ar, e as doações adicionais serão canalizadas para “projetos que promovem a coexistência israelense e palestina e fomentam a educação política para a tolerância e o entendimento mútuo entre os jovens na Alemanha”.
Fundado em 2015, o restaurante Kanaan tem o slogan “Faça húmus, não guerra”. Uma semana depois dos atentados de 7 de outubro de 2023 do grupo terrorista palestino Hamas contra Israel, a dupla lançou o livro “Kanaan: O Livro de Receitas Israelense-Palestino” (em tradução livre), com instruções de preparo de pratos do estabelecimento e histórias sobre os dois povos. O livro ficou entre os mais vendidos na seção de gastronomia da Amazon alemã.
“É tão difícil falar sobre paz. É muito mais difícil agora convencer as pessoas, puxá-las e empurrá-las em direção à paz”, disse Ben David, em entrevista ao jornal inglês The Guardian. “Quero fazer a diferença e fazer parte das soluções, e não procurar problemas e ficar apontando o dedo para os outros.”
Em entrevista ao site da Asif, organização sem fins lucrativos e centro culinário de Israel que difunde a cultura gastronômica do país, Jalil Dabit afirmou que o Kanaan prova que há “uma alternativa” e que israelenses e palestinos podem coexistir.
“Fomos entrevistados por mais de 120 repórteres do mundo todo. Nossa parceria sobreviveu até mesmo ao 7 de outubro, porque trabalhamos juntos há muitos anos e confiamos um no outro. Sabemos que nossos líderes são os culpados, não nossos povos”, disse o palestino.
“Ao longo da história, judeus e árabes viveram juntos, lado a lado, e houve momentos bons e ruins, mas na maior parte, bons momentos. Politicamente, espero que os dois povos tenham seus direitos e possam coexistir, em qualquer configuração. Não temos escolha a não ser reconhecer a humanidade e a dor do outro”, afirmou Dabit.