Entrevista
Há chance de mudança em dias dramáticos
Yariv Oppenheimer, diretor-geral do Paz Agora, a mais famosa ONG pacifista de Israel, criada em 1978.
O diretor-geral do Paz Agora, a mais famosa ONG pacifista de Israel, criada em 1978, é uma voz que destoa no consenso dos últimos dias em Israel. Yariv Oppenheimer não hesita em afirmar que é contra a atual ação militar israelense na Faixa de Gaza, mesmo que o país esteja sob ataque com bombas do grupo islâmico Hamas. Segundo ele, tudo isso poderia ser evitado caso o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tivesse mantido as negociações de paz com os palestinos, que foram suspensas em abril. Para Oppenheimer, optar apenas pela saída militar não leva a nada, e, assim que a operação acabar, as mesmas perguntas sobre o futuro ficarão. "Justamente nos dias mais dramáticos é quando há uma chance de mudança".
O senhor apoia a operação militar na Faixa de Gaza?
Não, não apoio. Depois do sequestro e da morte dos três adolescentes israelenses na Cisjordânia, era possível chegar a um acordo com o Hamas. O próprio Hamas falou disso, queria isso. Se tivéssemos negociado, essa realidade de hoje poderia ter sido evitada. Mais do que isso, se houvesse agora negociações de paz com Mahmoud Abbas, não estaríamos vivendo este momento. Mas Benjamim Netanyahu [o premiê israelense] preferiu pulverizar o processo de paz e fazer até mesmo com que os americanos se cansassem, levando à realidade de agora.
O que a esquerda pode fazer, neste momento?
Há opiniões divergentes, realmente. Mas acho que o trabalho da esquerda é criar uma alternativa, não só em relação a essa operação mas também quanto à toda política em relação aos palestinos.
Que alternativa seria essa?
Essa operação militar vai acabar em dias ou semanas e depois dela, as mesmas perguntas sobre o futuro ficarão. Cada vez mais há pessoas que entendem que a direita falhou e que é preciso algo novo. Agora é a oportunidade da esquerda mostrar isso. Temos que deixar claro que a alternativa é negociar a paz com palestinos que querem o mesmo que nós: dois Estados para dois povos. E que optar apenas pela saída militar não leva a nada.
Qual é o futuro das negociações de paz com os palestinos depois de tudo o que aconteceu no último mês?
Nos dias em que há calma, os moradores de Israel não pensam em mudar a situação, eles se acostumaram a viver com o conflito. Mas justamente nas épocas em que ocorre algo maior, como agora, de repente as pessoas entendem que é preciso pensar numa solução. Há uma ligação entre a situação de segurança e a situação política, não estão separadas. Acredito que, justamente nos dias mais dramáticos, há uma chance de mudança.
Agência O Globo
Enquanto Israel prepara-se para uma iminente incursão terrestre na Faixa de Gaza, os líderes do grupo islâmico Hamas, que controla a região, tentam obter ganhos mesmo que apenas psicológicos no embate que entra hoje no terceiro dia, quando o Conselho de Segurança da ONU se reúne para discutir o conflito no Oriente Médio.
Nas primeiras 48 horas da Operação Limite Protetor, Israel alvejou mais de 590 alvos da infraestrutura do Hamas em Gaza, numa campanha, segundo as autoridades, mais eficaz do que a anterior, a Pilar Defensivo, em novembro de 2012, que teve 1.600 ataques em oito dias.
O Hamas, por sua vez, quebrou recordes ontem, ao lançar mísseis às maiores distâncias desde que começaram os lançamentos de Gaza contra Israel há 14 anos: um míssil M-302, de fabricação síria, caiu em Zichron Yaakov, a 125 quilômetros do território palestino.
A próxima etapa de Israel é o envio de mais de 14 mil reservistas do Exército (do máximo de 40 mil aprovado pelo Gabinete de segurança), que estão de prontidão na fronteira, esperando sinal verde para invadir.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insinuou, em visita a uma base militar em Beersheva, que isso acontecerá em breve. "Não vamos aceitar disparos contra nossas comunidades e cidades e contra nossas crianças, e o Hamas vai pagar um preço muito alto. Estamos no auge de uma campanha. É preciso paciência, determinação e firmeza", afirmou.
Já o Hamas fez mais de 120 lançamentos de foguetes e mísseis na terça-feira. No Sul, o novo alvo foi Dimona, onde Israel manteria uma usina nuclear (que o país nunca admitiu ter). A cidade foi alvejada por uma saraivada de sete mísseis, sendo que dois foram interceptados e cinco caíram em áreas abertas, sem ferir ninguém.
No Norte, o Hamas anunciou ter atingido as proximidades de Haifa, a 160 quilômetros de Gaza, mas Israel não confirmou, e não houve alertas na cidade.
Pelo segundo dia consecutivo, o Hamas também procurou entrar em Israel por terra. Houve uma tentativa de invasão de militantes na altura do kibutz Zikim, a menos de um quilômetro de Gaza. No dia anterior, cinco militantes morreram ao serem avistados pela Marinha de Israel.
Netanyahu dedicou boa parte de seu tempo, ontem, em conversas com líderes mundiais para justificar a ação. Ele ligou para a chanceler alemã, Angela Merkel, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o secretário de Estado americano, John Kerry. À noite, emitiu uma nota oficial à imprensa estrangeira, na qual afirmou que "nenhum país ficaria passivo diante de centenas de mísseis atirados contra suas cidades, e Israel não é uma exceção".
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, qualificou de "genocídio" a operação de Israel em Gaza, durante uma reunião de gabinete em Ramallah, na qual fez um minuto de silêncio pelos mortos em Gaza.
590
A Força Aérea israelense atacou 590 alvos do Hamas em Gaza, em dois dias. O objetivo é destruir a infraestrutura do grupo, incluindo galpões de confecção e armazenamento de armas e também casas de líderes do grupo islâmico. O Hamas lançou mísseis contra Israel, mas a bateria antiaérea conseguiu eliminá-los.
61
A ofensiva já teria matado 61 pessoas entre elas 20 civis, dos quais oito crianças e ferido mais de 300, de acordo com os palestinos. Segundo o diretor de programas para ajuda médica aos palestinos, se a ofensiva continuar, em poucos dias os hospitais de Gaza, já lotados, entrarão em colapso.
Zero
Do lado israelense, não há mortos até agora. Os dados falam em 68 pessoas tratadas em hospitais, sendo nove com ferimentos e 59 com ataques de pânico. A mídia, engajada 24 horas por dia, e as lideranças locais, repetem a todos as orientações para o caso de bombardeios: entrar no abrigo antiaéreo ou num quarto reforçado mais próximo em 15 segundos e esperar 10 minutos.
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