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Entrou em vigor nesta sexta-feira na Itália a nova regra que exige que todos os trabalhadores do país comprovem que estão vacinados contra a Covid-19 ou apresentem testes negativos regulares, o que provocou protestos em cidades e portos italianos. As novas exigências da Itália são as medidas desse tipo mais rígidas já implementadas em países ocidentais para conter a pandemia.
Todos os trabalhadores, dos setores privado ou público, devem obter um "passaporte verde" - um documento emitido pelo governo que comprova que a pessoa está completamente vacinada contra o coronavírus, se recuperou de uma infecção nos últimos seis meses ou fez um teste com resultado negativo nos dois dias anteriores.
O passaporte, que pode ser instalado no celular, deve ser apresentado em todos os locais de trabalho. Funcionários que forem trabalhar sem o passaporte válido podem receber multa de até 1.500 euros (cerca de R$ 9.500). Servidores públicos que comparecerem ao trabalho sem o documento por cinco vezes podem ser suspensos sem remuneração. Empregadores também podem ser punidos.
Desde o início de setembro, o certificado já é exigido para a entrada em museus, academias, teatros, áreas internas de restaurantes e outros locais, bem como para viajar em trens e ônibus de longa distância ou voos domésticos na Itália.
Milhares de italianos foram às ruas nesta sexta-feira protestar contra as medidas. Na cidade portuária de Trieste, cerca de 6 mil pessoas participaram da manifestação organizada por grupos trabalhistas. Um representante de um sindicato local afirmou à imprensa que cerca de 40% dos trabalhadores do porto não estão vacinados, uma proporção de não vacinados maior do que a do restante da população da Itália.
Vários manifestantes disseram à imprensa que consideram o passaporte uma forma de discriminação entre a população.
Ivano Russo, diretor da Confederação Geral de Transporte e Logística da Itália, uma associação de empregadores, disse à agência de notícias AFP que cerca de 900 mil caminhoneiros, entregadores e funcionários de depósitos não possuem o certificado de saúde. O número representa cerca de 25% a 30% do total dessa força de trabalho, segundo o diretor.
Na cidade portuária de Gênova, cerca de cem manifestantes bloquearam o acesso a caminhões, segundo a Reuters.
O governo do primeiro-ministro Mario Draghi defendeu o passaporte verde como uma forma de evitar novos lockdowns na Itália, um dos países europeus mais afetados pela Covid-19, especialmente no início da pandemia.
Dados do governo italiano indicam que 81% da população acima de 12 anos, que já esta apta a receber a vacina, já foi completamente vacinada, e que 85% dessas pessoas já tomaram pelo menos a primeira dose de um imunizante.
Um documento do governo, obtido pela Reuters, estima que cerca de 15% dos trabalhadores do setor privado e 8% dos servidores públicos ainda não têm o passaporte verde.
Alguns partidos políticos e sindicatos defendem que os testes negativos de Covid devem ser válidos por 72 horas, e não apenas 48 horas, e que devem ser gratuitos para os trabalhadores não vacinados.
Mas o governo italiano até o momento não aceitou a proposta. O partido Democrático, de centro-esquerda e parte da coalizão de governo, diz que a gratuidade dos testes seria o equivalente a uma anistia a sonegadores de impostos.
Scanners eletrônicos que fazem a leitura do código QR dos passaportes em celulares já estão instalados em locais de trabalho maiores, noticiou o Euronews. Porém, em locais pequenos como restaurantes ou academias, os proprietários ou gerentes precisaram baixar um aplicativo capaz de ler os códigos. Enquanto ainda não está claro como as autoridades farão a medida ser cumprida, o temor de revistas levou empregadores a obedecer as regras, pelo menos inicialmente.
Enquanto os trabalhadores em geral têm a opção de apresentar um diagnóstico negativo, os profissionais de saúde são a única categoria no país para quem a vacinação contra Covid-19 é obrigatória. Professores e profissionais das escolas já precisam apresentar o passaporte verde desde setembro.