Mikeisha Simpson cobre seu corpo com um gorduroso creme branco e veste um agasalho de corrida para evitar o sol da sua Jamaica natal, mas ela não está preocupada com o câncer de pele. A moradora de 23 anos de um gueto de Kingston espera transformar sua pele escura no tom café com leite, comum entre a elite jamaicana e preferida por muitos homens da vizinhança. Ela diz acreditar que uma pele mais clara pode ter o passaporte para uma vida melhor. Então, ela gasta suas escassas economias em misturas baratas vendidas no mercado negro que prometem reduzir a pigmentação.
Simpson e suas amigas desdenham das campanhas públicas de saúde e dos sucessos de reggae que condenam a prática.
"Eu ouço as pessoas que dizem que o clareamento é ruim, mas não vou deixar de fazer. Não vou parar porque eu gosto e eu sei como fazer de uma forma segura", disse Simpson, com sua filha pequena no colo.
Pessoas em todo o mundo costumam tentar alterar a cor de suas peles usando máquinas de bronzeamento artificial para escurecer ou produtos químicos para clarear.
Nas favelas da Jamaica, médicos dizem que o fenômeno do clareamento da pele atingiu proporções perigosas. "Eu conheci uma mulher que começou a clarear a pele de seu bebê. Ela ficou muito irritada quando eu disse a ela para parar aquilo imediatamente e ela foi embora. Eu costumo me perguntar o que aconteceu com aquele bebê", disse o dermatologista jamaicano Neil Persadsingh. A maioria dos jamaicanos clareia a pele com cremes sem prescrição, muitos deles cópias piratas importadas da África Ocidental.
A tendência de clareamento está provocando um debate público. Até mesmo os sucessos do reggae celebram ou condenam a prática. O maior defensor público do clareamento é o cantor Vybz Kartel, cuja cor da pele ficou muito mais clara nos últimos anos.
Kartel, cujo nome verdadeiro é Adijah Palmer, afirma que clarear a pele é uma escolha pessoal, como fazer uma tatuagem.
Christopher A.D. Charles, professor-assistente do College Monroe, em Nova York, que estudou a psicologia do clareamento, disse que muitos jovens jamaicanos entendem a prática como "uma coisa moderna, como o Botox, que molda seus próprios corpos de uma forma única".
Outros, porém, dizem que a prática levanta incômodas questões sobre identidade e raça. "Se nós realmente queremos controlar a dispersão do vírus do clareamento da pele, temos primeiro de admitir que há uma epidemia de preconceito de cor em nossa sociedade", disse Carolyn Cooper, professor de estudos literários e culturais da Universidade West Indies, em artigo no jornal The Jamaica Gleaner.