Londres (AE) O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em artigo publicado ontem pelo jornal The Guardian, qualificou como "execução sumária" a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, ocorrida durante uma operação antiterrorismo da Scotland Yard no dia 22 de julho. Ele ressaltou que o combate ao terrorismo não deve ameaçar o respeito aos direitos humanos. A família de Menezes e o governo brasileiro, acrescentou, somente se sentirão reparados moralmente quando a ação policial for condenada.
Amorim diz entender o choque nos britânicos causados pelos ataques contra Londres em julho e reafirmou a solidariedade do governo brasileiro no combate ao terror. "Mas no Brasil nós também ficamos chocados ao ver que um brasileiro inocente podia ser confundido com um terrorista e ser alvejado fatalmente pela polícia", disse. "Eu quero evitar palavras fortes, mas isso foi um erro trágico, para dizer o mínimo. Foi um caso de execução sumária de uma pessoa errada."
O ministro observa que mesmo quando o suspeito é acusado de um crime, ele tem o direito de se defender na Justiça. Mas Menezes "não foi nem mesmo acusado de nada ele era simplesmente o homem errado".
Amorim diz que não quer julgar a ação policial e que espera que os resultados da investigação promovida pela comissão independente, a IPCC, esclareçam o caso. Mas, segundo ele, talvez os métodos policiais deveriam ser questionados. "Devemos isso à causa dos direitos humanos para garantir que não ataquemos o inocente, senão estaremos ajudando os terroristas, que desejam criar um clima de insegurança", disse. "Agora, cidadãos pacíficos não estão apenas com medo das bombas suicidas mas também da polícia."
Amorim observa que o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Jack Straw, tem salientando que como o terrorismo está se tornando internacional, as normas de combate a ele também têm de ser internacionais. "Eu entendo que as regras do tratamento policial dado ao caso Menezes nunca foram discutidas antes em lugar algum", disse.
"Não estou dizendo que não é um direito soberano do Reino Unido estabelecer suas regras no combate ao terrorismo. Mas para uma cooperação autêntica, vamos ter que discuti-las também," salientou.
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