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A ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez denunciou nesta sexta-feira, em audiência judicial, sofrer de anorexia nervosa e ser intimidada dentro da prisão onde cumpre prisão preventiva enquanto é alvo de uma investigação de golpe de Estado.
Na audiência, realizada por videoconferência e devido ao pedido de fim da prisão preventiva por parte da defesa, Áñez leu um comunicado no qual alegou que vem tendo falhas de memória e que vem sendo vítima de violência e tortura psicológica.
"Ontem fui avaliada por minha nutricionista com um diagnóstico de anorexia nervosa, um diagnóstico que sem dúvida agrava a minha desnutrição", afirmou.
A ex-presidente denunciou que vem sendo medicada com remédios "de eficácia duvidosa" e que em várias ocasiões isso a deixou muito sonolenta e até a causou alucinações.
A ex-chefe de governo também relatou que um grupo de mulheres na penitenciária de Miraflores, onde ela está detida há mais de seis meses, gritou com ela e a insultou.
"É perigoso para mim descer o corredor da prisão para tomar sol, o que não faço há mais de um mês. Naturalmente essas violações de meus direitos são cometidas sob o olhar insensível das autoridades penitenciárias", denunciou Áñez, que também afirmou só ter tido permissão para receber visitas de seus advogados e que está impedida inclusive de ter uma conversa direta com seu psiquiatra.
"Presumo que a única coisa que o governo está procurando e vai conseguir é a minha morte a curto prazo", disse.
Audiência foi suspensa
Áñez sofreu um mal estar durante a audiência, que acabou suspensa. A ex-presidente continuará o depoimento neste sábado, segundo a advogada Norka Cuellar, que faz parte da defesa.
O Regime Penitenciário boliviano publicou um comunicado no qual afirma que a ex-presidente sofreu uma "leve descompensação que impediu a continuidade de sua defesa" e que ela recebeu atendimento da equipe médica.
"No momento e sob relatório médico, a prisioneira Jeanine Áñez está estável e recebe atenção médica constante do pessoal de saúde do Regime Penitenciário", informa a nota.
Líder da oposição é intimado a depor
O Ministério Público anunciou nesta sexta-feira que convocou o governador de Santa Cruz e líder da oposição, Luis Fernando Camacho, para depor na próxima quinta-feira, também como parte da investigação do chamado caso de "golpe de Estado" pelo qual Áñez está sendo processada.
Na próxima semana, também prestarão depoimento o ex-presidente Jorge Quiroga, o pai de Camacho e o empresário Samuel Doria Medina.
O governador é um dos principais réus no caso do "golpe de Estado", iniciado a pedido do governo, e está sendo investigado pelos supostos crimes de conspiração e desestabilização durante a crise social e política de 2019, que levou à renúncia de Evo Morales à presidência após as eleições daquele ano, que ele venceu sob acusações de fraude.