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Após ofensiva liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham, que tomou grande parte da cidade, tropas sírias recuaram e a Rússia realizou os primeiros bombardeios desde 2016
Após ofensiva liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham, que tomou grande parte da cidade, tropas sírias recuaram e a Rússia realizou os primeiros bombardeios desde 2016| Foto: EFE/EPA/Mohammed Al-Rifai

Alepo, a segunda maior cidade da Síria, voltou a ser palco de intensos confrontos armados após uma ofensiva fulminante conduzida pelo grupo extremista islâmico Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS) e facções aliadas, apoiadas pela Turquia. Neste sábado (30), o exército sírio admitiu que os insurgentes controlam “amplas partes” da cidade, incluindo edifícios governamentais e prisões, após combates que deixaram mais de 300 mortos. Este é o maior confronto na região desde 2016, quando o regime de Bashar al-Assad, uma ditadura de viés árabe-socialista, retomou Alepo com o apoio de aliados como Rússia e Irã.

Um avanço estratégico e sangrento

De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), o ataque rebelde já resultou na morte de 311 pessoas, incluindo 183 combatentes da Organização para a Libertação do Levante e aliados, 100 soldados sírios e milicianos pró-regime, e 28 civis. Além disso, os rebeldes conquistaram cerca de 70 vilarejos na região e partes da rodovia estratégica que liga Alepo a Hama, Homs e Damasco. "Não houve combates, nem um único tiro foi disparado, pois as forças do regime se retiraram", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.

A ofensiva, chamada de "Repelindo a Agressão", foi lançada na última quarta-feira em resposta a bombardeios recentes do regime sírio contra áreas controladas pela Organização para a Libertação do Levante em Idlib. Aviões de guerra russos intervieram em apoio ao governo sírio, realizando ataques aéreos em Alepo pela primeira vez desde 2016. Enquanto isso, o governador de Alepo e chefes de polícia e segurança abandonaram o centro da cidade, sinalizando o colapso das forças pró-governo na região.

Medo e insegurança entre os civis

A população civil de Alepo enfrenta uma nova onda de medo e instabilidade. "Pela primeira vez em anos, ouvimos bombardeios e aviões o tempo todo. Estamos com medo de que o cenário da guerra volte", relatou Sarmad, um residente de 51 anos. Quatro civis morreram em um ataque a uma residência estudantil, enquanto outros tentam fugir das áreas afetadas.

A comunidade cristã local, já abalada por anos de guerra e pelos terremotos que devastaram a região neste ano, também está sofrendo. Conforme nota para a imprensa enviada pela organização cristã Portas Abertas, “a Síria ocupa a 12ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2024 e enfrenta perseguição extrema contra cristãos.” A organização destacou que vários treinamentos e projetos planejados por parceiros na cidade foram cancelados devido à insegurança. “As pessoas estão com medo. Falei com cinco cristãos que não conseguiram sair da cidade. Eles estão aterrorizados e não confiam no que os rebeldes dizem, mas não têm para onde ir”, afirmou uma fonte local.

Impacto humanitário e infraestrutura

A crise humanitária se agrava com o deslocamento interno de milhares de pessoas e a morte de civis. No entanto, conforme a Portas Abertas, os rebeldes, ao assumirem a central elétrica de Alepo, aumentaram o fornecimento de eletricidade na região. Isso representa uma melhoria momentânea, já que a população antes contava com poucas horas de energia por dia devido à crise econômica. Apesar disso, a eletricidade não compensa a insegurança. "As pessoas podem ter luz, mas não têm segurança nem esperança", destacou a organização.

Além disso, a posição da Síria na Lista Mundial da Perseguição reforça o cenário de extrema vulnerabilidade dos cristãos na região, muitos dos quais já viviam deslocados ou sem garantias básicas de segurança antes mesmo dessa nova ofensiva.

Conflito sem fim

Desde 2011, a guerra civil síria já causou mais de meio milhão de mortes e deslocou milhões de pessoas. Embora o regime ditatorial de Bashar al-Assad tenha recuperado grande parte do território com o apoio de Rússia, Irã e Hezbollah, regiões estratégicas como Idlib e partes de Alepo permanecem fora de seu controle.

De acordo com o Infobae, os rebeldes intensificaram a pressão sobre o regime após a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo no Líbano, mediado entre Israel e Hezbollah. Esse contexto mostra como o conflito sírio continua a ser influenciado por dinâmicas regionais e internacionais, perpetuando a fragmentação e o sofrimento no território.

Organizações humanitárias, como a Portas Abertas, pedem apoio. "Interceda pela segurança dos nossos irmãos e irmãs em Cristo e pelo fim do derramamento de sangue", apela a organização. Alepo, mais uma vez, se encontra no centro de uma tragédia humanitária que parece não ter fim.

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