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Política externa

Como países adversários reagiram à demissão do conselheiro de segurança de Trump

O então conselheiro de segurança nacional dos EUA, John Bolton, responde perguntas de jornalistas em Minsk, Belarus, 29 de agosto de 2019 (Foto: Sergei GAPON / AFP)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira (10) que demitiu seu conselheiro de segurança nacional, John Bolton, dizendo que "discordava fortemente" de muitas de suas posições.

Chamado nos Estados Unidos de "falcão" - o termo usado para aqueles que defendem a guerra ou uma abordagem mais agressiva em situação de disputa - Bolton entrou na Casa Branca empolgado para colocar Irã, Coreia do Norte, Venezuela, Afeganistão e outros países em alerta de que uma intervenção linha dura estava sendo lançada. Trump não estava totalmente de acordo, no entanto.

Veja como alguns países reagiram à demissão de Bolton e o que a sua saída pode significar para a política externa dos EUA em regiões de tensão, pelo menos enquanto um novo nome não é apontado.

Irã

O site oficial do presidente iraniano Hassan Rouhani afirma que o líder viu a saída de Bolton como uma oportunidade para o governo Trump "abandonar a política belicista e de pressão máxima".

Trump retirou-se do pacto nuclear do Irã no ano passado, enfurecendo aliados dos EUA na Europa que permaneceram no acordo. As sanções dos EUA foram intensificadas nos últimos meses e as tensões aumentaram quando o Irã foi acusado de ter atacado navios petroleiros no Golfo Pérsico e derrubado um drone americano na região.

Em meio a tudo isso, Bolton permaneceu veementemente contrário a negociações com a liderança iraniana. Em resposta à postura rígida, o Irã violou algumas das restrições estabelecidas pelo acordo nuclear.

A postura de Bolton como conselheiro de segurança nacional certamente não deveria ter sido uma surpresa para quem acompanhava suas observações anteriores. Meses antes de se tornar consultor de segurança nacional, ele defendeu abertamente a derrubada do regime iraniano com o apoio dos Estados Unidos. "Nosso objetivo deve ser a mudança de regime no Irã", disse Bolton ao canal de televisão Fox News em janeiro passado.

Embora a saída de Bolton do governo Trump possa abrir caminho para conversas diretas com o regime iraniano, Trump assume a responsabilidade pela retirada do acordo nuclear com o Irã. Ele próprio havia pedido que o acordo fosse quebrado. Mesmo sem Bolton, é improvável que Trump faça concessões substanciais ao Irã.

Coreia do Norte

Não houve reação oficial imediata da Coreia do Norte até esta quarta-feira, mas o regime em Pyongyang já havia expressado críticas particularmente duras a Bolton, chamando-o de "produto humano defeituoso" e "promotor da guerra".

A hostilidade da Coreia do Norte em relação a Bolton é anterior ao governo Trump.

Como embaixador da ONU e subsecretário de Estado para o controle de armas durante o governo George W. Bush, Bolton fazia comentários duros sobre Pyongyang, até mesmo sugerindo a necessidade de uma guerra preventiva.

Em um artigo publicado no Wall Street Journal em fevereiro passado, antes de ingressar no governo Trump, Bolton explicou sua posição: "É perfeitamente legítimo que os Estados Unidos respondam à atual 'necessidade' imposta pelas armas nucleares da Coreia do Norte atacando primeiro".

Preocupações dentro da Casa Branca de que Bolton poderia complicar a primeira reunião entre Kim e Trump acabaram se justificando. Após dois meses em seu novo cargo, Bolton sugeriu que a Líbia poderia servir de modelo para convencer a Coreia do Norte a abandonar seu programa de armas nucleares, o que provocou turbulência nos preparativos para a reunião.

Embora Bolton se referisse à necessidade de criar confiança e de verificar qualquer progresso na desnuclearização, a Coreia do Norte viu os comentários como uma indicação de que Bolton estava advogando por uma derrubada violenta do regime - semelhante ao que aconteceu na Líbia quando seu líder Muammar Gaddafi foi deposto e morto.

Depois que a Coreia do Norte disse que a sugestão de Bolton era "terrivelmente sinistra", o presidente Trump também contradisse Bolton, dizendo: "o modelo da Líbia não é o modelo que temos quando pensamos na Coreia do Norte". Trump acrescentou que Kim "estaria em seu país; ele estaria governando o seu país" no caso de um acordo.

Durante a primeira cúpula de Kim-Trump, Bolton se viu posto de lado. Após a segunda cúpula dos dois líderes em fevereiro, as autoridades americanas culparam Bolton pelo fracasso da reunião.

Sua saída pode gerar novas esperanças de progresso, especialmente depois que a Coreia do Norte disse na segunda-feira que estava disposta a retomar as negociações com os Estados Unidos. Mas os analistas continuam descrentes, pois veem as diferenças mais fundamentais entre Kim e Trump como a principal razão da falta de progresso em convencer Pyongyang a desistir de seu programa de armas nucleares. Os Estados Unidos sustentam que a Coreia do Norte deve ser desnuclearizada unilateralmente; A Coreia do Norte rejeita essa ideia.

Venezuela

O presidente Donald Trump disse na quarta-feira que ele discordava de Bolton a respeito da Venezuela, que foi o principal portfólio de políticas do conselheiro em seus últimos meses. Bolton prometeu que o ditador Nicolás Maduro seria prontamente derrubado do poder logo depois da imposição de sanções dos EUA contra a empresa estatal de petróleo venezuelana, mas Maduro permanece em meio a uma crise humanitária cada vez pior.

"Eu discordava das atitudes de Bolton em relação à Venezuela. Eu achava que ele tinha passado dos limites, e acho que provei que eu estava certo", disse Trump, sem especificar o que teria feito de diferente ou se a política da Venezuela mudará com a demissão de Bolton.

Trump já havia manifestado anteriormente frustração com as decisões de Bolton a respeito da Venezuela.

Segundo especialistas, a saída de Bolton é uma "boa notícia" para a possibilidade de uma saída pacífica da crise da Venezuela. Apesar de seu apoio ao governo interino de Juan Guaidó, Bolton já fez críticas públicas aos diálogos entre representantes de Maduro e Guaidó apoiados por Noruega.

Em discurdo em Lima, no Peri, Bolton disse que "o tempo para o diálogo" havia "acabado", ao mesmo tempo em que as delegações do regime chavista e da oposição estavam reunidas em Barbados para negociações.

Rússia

As opiniões de Bolton sobre a Rússia podem não ter desencadeado respostas retóricas tão fervorosas quanto as da Coreia do Norte e do Irã, mas Bolton também não era exatamente apreciado em Moscou.

Antes de ingressar no governo, ele correu para apoiar os aliados dos EUA na Europa - muitos dos quais permanecem profundamente céticos em relação a algumas das posições de Bolton em relação à Coreia do Norte ou ao Irã - dizendo que "não permitiremos que a Rússia manipule os EUA ou seus aliados".

Esses comentários abriram caminho para vários momentos embaraçosos durante seu tempo como conselheiro de segurança nacional. Enquanto os Estados Unidos ameaçavam se retirar de um importante pacto de armas nucleares com a Rússia no ano passado, o presidente russo Vladimir Putin acusava implicitamente Bolton de ter feito uma provocação cara a cara.

"Até onde me lembro, o selo dos Estados Unidos mostra uma águia segurando 13 flechas de um lado e um ramo de oliveira com 13 azeitonas do outro", disse Putin a Bolton, que visitava a Rússia.

"Uma pergunta: a sua águia já comeu todas as azeitonas e agora só restam as flechas?" Putin perguntou.

"Espero ter algumas respostas para você… Mas eu não trouxe mais azeitonas", respondeu Bolton.

"Foi o que pensei", respondeu Putin, entre risadas de Bolton.

Bolton foi uma força-chave por trás das ameaças dos EUA na época de se retirar do chamado pacto INF, argumentando que a Rússia havia violado o acordo. Ele acabou vencendo e os Estados Unidos deixaram o pacto.

Ainda neste mês, Bolton viajou pela Europa Central e Oriental em um roteiro que foi amplamente visto como uma tentativa de trazer para mais perto do Ocidente uma região que anteriormente estava sob controle soviético e ainda depende de Moscou.

É improvável que Moscou sinta falta de Bolton. Mas na quarta-feira, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, disse que não esperava que a partida resultasse em melhorias imediatas nos laços EUA-Rússia, de acordo com a agência de notícias russa RIA.

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