Em foto tirada em 25 de maio de 2019, o então presidente tanzaniano John Pombe Magufuli acena ao chegar ao Estádio Loftus Versfeld em Pretória, África do Sul, para a posse do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. Magufuli morreu nesta quarta-feira (17).| Foto: Michele Spatari / AFP
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O presidente da Tanzânia, John Magufuli, um dos céticos mais proeminentes do coronavírus da África, morreu aos 61 anos. Sua morte foi anunciada na TV pela vice-presidente do país, Samia Suluhu Hassan, nesta quarta-feira (17), após uma ausência de mais de duas semanas da vida pública, que levou a especulações sobre a saúde dele. Ela disse que ele morreu por causa de um "problema cardíaco".

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Magufuli não era visto em público desde 27 de fevereiro, gerando rumores de que ele havia contraído Covid-19. As autoridades negaram em 12 de março que ele tivesse adoecido. Ele foi o primeiro presidente da Tanzânia a morrer durante o mandato.

"Caros tanzanianos, é triste anunciar que hoje, 17 de março de 2021, por volta das 18h, perdemos nosso bravo líder, o presidente John Magufuli, que morreu de doença cardíaca no hospital Mzena em Dar es Salaam, onde estava recebendo tratamento ", disse a vice-presidente em transmissão da emissora estatal TBC.

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Ela disse que os preparativos para o funeral estavam em andamento e anunciou 14 dias de luto e hasteamento de bandeiras a meio mastro. O primeiro-ministro Kassim Majaliwa disse na sexta-feira que havia falado com Magufuli e culpou alguns tanzanianos "odiosos" que viviam no exterior pela narrativa da doença do presidente.

Tundu Lissu, o principal rival de Magufuli nas eleições de outubro, nas quais o presidente ganhou um segundo mandato de cinco anos, sugeriu que o líder da Tanzânia foi levado de avião para o Quênia para tratamento contra a Covid-19 e depois transferido para a Índia em coma. Lissu vive exilado na Bélgica.

De acordo com a Constituição da Tanzânia, a vice-presidente Hassan, de 61 anos, deve assumir a presidência pelo restante do mandato. Ela se tornará a primeira mulher presidente de uma nação da África Oriental. Nascida no arquipélago semi-autônomo de Zanzibar, Hassan estudou economia no Reino Unido, trabalhou para o Programa Mundial de Alimentos da ONU (FAO) e depois ocupou vários cargos no governo antes de se tornar a primeira mulher vice-presidente da Tanzânia em 2015.

Hassan disse que Magufuli foi internado em 6 de março no Jakaya Kikwete Cardiac Institute por problemas cardíacos e teve alta no dia seguinte. Uma semana depois, ele se sentiu mal e foi levado às pressas para o hospital de Mzena, onde estava recebendo tratamento sob supervisão de médicos do instituto cardíaco.

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"Deus e inalação"

Apelido de "escavadeira" por sua reputação de promover políticas apesar da oposição, Magufuli frustrou a Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a pandemia por minimizar a ameaça do coronavírus, dizendo que "Deus e inalação" protegeriam os tanzanianos.

O ex-professor de química zombou de testes de coronavírus, denunciou as vacinas como parte de uma conspiração ocidental para tirar a riqueza da África e se opôs ao uso de máscaras e ao distanciamento social.

A Tanzânia parou de relatar dados de coronavírus em maio do ano passado, quando informou ter registrado 509 casos e 21 mortes, de acordo com a OMS, que pediu ao governo que fosse mais transparente.

Em fevereiro, a Tanzânia, que alegava estar livre da Covid-19 graças às orações, vivenciou uma onda de mortes atribuídas oficialmente à pneumonia.

No dia 19, no funeral do chefe da administração pública John Kijazi, cuja causa da morte não foi informada, Magufuli admitiu a presença de uma "doença respiratória" no território.

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No dia 24, o ministro da Economia Philip Mpango, que tossia e respirava com dificuldade, foi obrigado a desmentir em uma entrevista coletiva os rumores de que Kijazi teria morrido de Covid-19.

Magufuli apareceu pela última vez em público em 27 de fevereiro.

Ele foi reeleito para um segundo mandato em 2020, ganhando 84% dos votos em uma eleição que a oposição disse ter sido marcada por irregularidades e cujos resultados rejeitou.

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