John McCain, o senador americano que foi prisioneiro e herói na Guerra do Vietnã e enfrentou Barack Obama na eleição presidencial de 2008, morreu aos 81 anos neste sábado (25), vítima de um câncer no cérebro. Ele completaria 82 anos no próximo dia 29.
McCain recebeu o diagnóstico de glioblastoma (tumor agressivo no cérebro ou coluna) em julho de 2017, e em dezembro deixou de ir ao Senado, onde representou o estado do Arizona durante 30 anos. Na última sexta (24), sua família anunciou que ele interromperia o tratamento e receberia apenas cuidados paliativos em seu rancho perto de Cornville (AZ), onde morreu.
John Sidney McCain 3º nasceu em 1936 em uma base naval americana no Panamá, onde seu pai servia. Filho e neto de almirantes, algo que mais tarde o levaria à Marinha, o pequeno John e seus irmãos, Sandy e Joe, seriam criados principalmente pela mãe, Roberta, cuja família explorava petróleo.
A infância foi marcada pelas mudanças por causa do trabalho do pai até a família assentar na Virgínia. Em 1958, entrou para a Academia Naval de Annapolis, onde se formou em 1958 sem destaque.
O jovem McCain era descrito como um sujeito cercado de amigos e namorador -- em seu livro “Faith of my Fathers” (1999), ele cita um romance breve com uma carioca, supostamente Maria Gracinda de Jesus.
Após completar a formação de piloto naval em Pensacola, casou-se pela primeira vez, com Carol Shepp (mãe de dois filhos que ele adotaria), e teve sua primogênita.
Em 1967, veio a convocação que definiria sua vida, para combater na Guerra do Vietnã. O avião que McCain pilotava perto de Hanói foi abatido, e o militar, que quebrou os braços na queda, capturado.
Ele passaria dois meses no hospital e três em uma cela até ser confinado à solitária.
A captura do filho de almirante repercutiu. Ele não aceitou, contudo, que se negociasse sua libertação sem incluir outros prisioneiros de guerra.
Sem acordo, McCain passaria quatro anos e meio sendo torturado rotineiramente, o que deixaria sequelas físicas e marcaria sua visão da guerra.
O fato de ter sido prisioneiro atraiu a atenção da mídia no retornou aos EUA, em 1973. Após a reabilitação, assumiria funções administrativas na Marinha que alimentariam seu interesse por política. Em casa, o casamento ruía.
Já envolvido com o Congresso, McCain deixaria a Marinha em 1981 como capitão. No ano anterior ele se divorciara de Carol para casar com Cindy, cuja família tinha uma bem-sucedida distribuidora de bebidas no Arizona. Os dois teriam quatro filhos, uma delas adotada em Bangladesh.
A carreira no Congresso começou em 1982, com a eleição como deputado do Partido Republicano pelo Arizona. Ele serviria quatro anos até chegar ao Senado, onde substituiu Barry Goldwater, célebre pelo discurso populista e por perder a Casa Branca para Lyndon Johnson em 1964.
Especialista em Defesa e uma voz moderada no partido, McCain logo ganharia a alcunha de “maverick”, adjetivo associado a personalidades independentes e ousadas.
A campanha presidencial, porém, o apequenaria, sobretudo após a escolha da ex-governadora do Alasca Sarah Palin como vice, um aceno ao movimento radical populista Tea Party jamais digerido pelo establishment.
McCain não esmoreceu diante da derrota. Aplaudiu o adversário, voltou ao Senado e, desde então, se colocou como a voz crítica mais proeminente dentro de seu partido, sobretudo após a ascensão de Donald Trump.
“Temer o mundo que lideramos por três quartos de século é antipatriótico, um apego a dogmas ultrapassados que os americanos já jogaram no lixo da história”, declarou McCain sobre o desprezo de Trump pelo multilateralismo.
A frase, de seu discurso ao receber a Medalha da Liberdade do Congresso, em 2017, aludia ao que chamou de “nacionalismo meia-boca”, que “prefere achar bodes expiatórios em vez de soluções.”
Próximo de veteranos de todas as alas, manteve longa amizade com Lindsey Graham, Joe Lieberman e Joe Biden, vice de Obama. Quando o senador democrata o visitou, em maio, ouviu do amigo que não desistisse da política.
McCain deixa a mulher, Cindy, os filhos Sidney, Meghan, John, James e Bridget.
Deixa também a memória de um tipo de política no qual a convicção não mata o diálogo, e em que discordância respeitosa e conciliação são não só possíveis como efetivos.