Os principais jornais italianos decidiram não circular ontem nem atualizar seus sites na internet. A maioria dos canais não exibiu telejornais, e foram poucas as notícias nas rádios. Também houve greve de transportes em cidades como Roma e Milão.
Foi um protesto contra a "lei da mordaça", como é conhecido o projeto que o premier Silvio Berlusconi tenta aprovar no Congresso. O projeto já passou no Senado e deve ir à votação na Câmara no dia 29. Se virar lei, irá restringir o uso de grampos telefônicos em investigações e punir com multa os meios de comunicação que publicarem as transcrições.
Aos jornalistas, estão previstas penas de prisão de até dois meses.
A paralisação foi convocada pelo sindicato dos jornalistas, mas teve o apoio dos donos dos meios de comunicação. Um dos poucos jornais a circular foi Il Giornale, da família Berlusconi.
Há também grande descontentamento entre juízes. A associação dos magistrados afirmou em nota que a nova lei irá tornar muito mais difícil o trabalho investigativo de policiais e juízes.
A relação entre o premier, dono de canais de tevê, e a imprensa nunca foi amistosa. Berlusconi diz que a lei servirá para preservar a privacidade dos italianos e que há abuso nas autorizações de grampos e na publicação deles.
Mas os críticos afirmam que ele tenta se proteger, evitando investigações sobre sua vida e sobre membros do governo. Em 2009, o vazamento de partes de investigações sobre corrupção atingiram o premier.
Foram divulgados pelos meios de comunicação fotos e detalhes de festas que o premier dava em sua casa, para as quais eram contratadas garotas de programa.
Há dois meses, Berlusconi foi obrigado a aceitar a renúncia de Claudio Scajola, seu então ministro da Indústria, após a mídia divulgar operações fraudulentas na compra de um apartamento. À época, Berlusconi disse que a mídia "tinha muita liberdade" na Itália.
Racha e cortes
Berlusconi tem maioria na Câmara, mas mesmo entre seus aliados, há quem acredite que as restrições são excessivas e uma ameaça à liberdade de imprensa e à democracia.
Além disso, a base de apoio do premier está rachada devido ao pacote de cortes que o governo pretende implementar para reduzir o déficit público.