Banca na região central de Roma, sem os principais jornais do dia: ideia é mostrar que tipo de silêncio a “lei da mordaça” quer impor| Foto: Alberto Pizzoli/AFP

Os principais jornais italianos decidiram não circular ontem nem atualizar seus sites na internet. A maioria dos canais não exibiu telejornais, e foram poucas as notícias nas rádios. Também houve greve de transportes em cidades como Roma e Milão.

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Foi um protesto contra a "lei da mordaça", como é conhecido o projeto que o premier Silvio Ber­­lusconi tenta aprovar no Con­­gres­­so. O projeto já passou no Se­­nado e deve ir à votação na Câ­­mara no dia 29. Se virar lei, irá restringir o uso de grampos telefônicos em investigações e punir com multa os meios de comunicação que publicarem as transcrições.

Aos jornalistas, estão previstas penas de prisão de até dois meses.

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A paralisação foi convocada pelo sindicato dos jornalistas, mas teve o apoio dos donos dos meios de comunicação. Um dos poucos jornais a circular foi Il Giornale, da família Berlusconi.

Há também grande descontentamento entre juízes. A associação dos magistrados afirmou em nota que a nova lei irá tornar muito mais difícil o trabalho investigativo de policiais e juízes.

A relação entre o premier, dono de canais de tevê, e a imprensa nunca foi amistosa. Berlusconi diz que a lei servirá para preservar a privacidade dos italianos e que há abuso nas autorizações de grampos e na publicação deles.

Mas os críticos afirmam que ele tenta se proteger, evitando in­­vestigações sobre sua vida e so­­bre membros do governo. Em 2009, o vazamento de partes de investigações sobre corrupção atingiram o premier.

Foram divulgados pelos meios de comunicação fotos e detalhes de festas que o premier dava em sua casa, para as quais eram contratadas garotas de programa.

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Há dois meses, Berlusconi foi obrigado a aceitar a renúncia de Claudio Scajola, seu então ministro da Indústria, após a mídia di­­vulgar operações fraudulentas na compra de um apartamento. À épo­­ca, Berlusconi disse que a mí­­dia "tinha muita liberdade" na Itália.

Racha e cortes

Berlusconi tem maioria na Câmara, mas mesmo entre seus aliados, há quem acredite que as restrições são ex­­cessivas e uma ameaça à li­­berdade de imprensa e à de­­mocracia.

Além disso, a base de apoio do premier está rachada devido ao pacote de cortes que o governo pretende implementar para reduzir o déficit pú­­blico.