Um jornal do sul da China decidiu enfrentar nesta quarta-feira (23), de forma aberta e inédita, as autoridades do país ao publicar em sua primeira página um editorial intitulado "Por favor, libertem-no", depois que a polícia prendeu um de seus repórteres após a revelação de uma fraude cometida por uma grande empresa.
"Queridos leitores, nosso jornalista Chen Yongzhou escreveu sobre os problemas financeiros da empresa Zoomlion e foi detido pela polícia acusado de danos ao prestígio empresarial. Por isso temos que lançar nossa voz", explicou o jornal "Modern Express" da província do Cantão, aos seus leitores.
A detenção de Chen aconteceu na semana passada em Cantão, capital da província de mesmo nome, após uma série de notícias publicadas pelo "Modern Express" entre setembro de 2012 e junho de 2013.
Nelas, o jornalista argumentou que a Zoomlion, a segunda maior fabricante de equipamentos para a construção da China, inflou artificialmente o seu lucro e manipulou o mercado.
Sua prisão é a segunda entre repórteres do "Modern Express" em poucos meses, depois que Liu Hu foi detido por difamação, após pedir na internet uma investigação sobre a atuação de Ma Zhengqi, subdiretor da Administração do Estado para a Indústria e o Comércio.
De acordo com a publicação, Chen foi detido por policiais de Changsha, capital da província vizinha de Hunan - onde fica a sede da Zoomlion -, que deixaram sua jurisdição para prender o jornalista, a quem acusam de "prejudicar a reputação comercial" da empresa.
A polícia de Changsha só anunciou ontem a prisão de Chen, ao publicar em sua conta oficial no Weibo - o Twitter chinês -, que estão investigando o caso e que o repórter foi detido legalmente no último dia 19.
"Sempre acreditamos que se trabalhássemos de forma responsável, não teríamos nenhum problema; e se, por qualquer motivo, tivéssemos algum problema, poderíamos publicar correções e pedir desculpas. E se a coisa se tornasse muito séria, nos prepararíamos para um julgamento, e se perdêssemos, pagaríamos a compensação exigida", lamentou o "Modern Express".
"Os fatos evidenciam que fomos muito ingênuos", acrescentou o jornal.
Com isso, a publicação decidiu se arriscar com essa ação inédita que rompe com a censura habitual sobre os meios de comunicação, após terem permanecido "calados" desde a prisão do repórter com a esperança de que o assunto pudesse ser resolvido de portas fechadas.
É uma decisão vista como um último ato de "desespero" em busca do apoio da opinião pública.
"O editorial que ocupa hoje sua capa, com um tom zombador e amargo, foi aparentemente uma medida tomada pelo jornal como um último recurso", afirmou o pesquisador do projeto China Media da Universidade de Hong Kong, David Bandurski, que destacou os riscos da publicação do editorial de hoje.
"Casos como este raramente se discutem de forma tão aberta" na China, advertiu o especialista.
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