O jornal diário cubano "Granma", do partido comunista do país, publicou nesta segunda-feira (28) um editorial em que elogia a decisão do governo venezuelano de não renovar a concessão da rede RCTV, a mais antiga da Venezuela, que saiu do ar na noite do domingo (27).

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O "Granma" é praticamente o único veículo de comunicação da América Latina que se coloca a favor da decisão chavista. "Milhares de venezuelanos foram às ruas de Caracas para saudar o nascimento da Tves e a saída do ar da RCTV, instigadora do golpe de Estado de abril de 2002 e da greve petroleira que causou graves estragos à economia do país", diz o artigo.

O canal de TV venezuelano RCTV tenta nesta segunda-feira (28) uma via alternativa para transmitir seu conteúdo, pouco depois que saiu do ar seguindo a decisão do governo de não renovar sua concessão.

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O principal noticiário da manhã da RCTV, o "Observador", foi transmitido pela rede de rádio do mesmo grupo, a Rádio Caracas Rádio. O programa fez uma abordagem crítica das principais notícias do dia anterior e foi finalizado pelo jornalista Isnardo Bravo dizendo "não nos calarão".

A Venezuela amanheceu mais calma (apenas pequenas manifestações aconteceram nesta segunda) após o fim das transmissões da RCTV, algo que gerou protestos da oposição e comemorações por parte de seguidores do presidente Hugo Chávez durante a madrugada em várias cidades do país.

Parte dos funcionários compareceu ao trabalho na segunda, enquanto se espera uma decisão dos diretores do canal. Segundo uma fonte da RCTV, poderá haver transmissão de algum conteúdo através de Internet ou de mais programas por rádios locais.

Efeito dominó

Para os integrantes da comissão da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a medida do governo venezuelano é parte de uma "estratégia global" de controle da mídia. Eles disseram não descartar um "efeito dominó" na própria Venezuela e em outros países do continente, como Equador e Bolívia.

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Segundo o ministro de Comunicação e Informação, William Lara, o governo não vai tratar o fim da RCTV como fechamento, mas apenas como fim de concessão. "Digam a verdade, não se estão fechando meios de comunicação na Venezuela, a única coisa que acontece é a não-renovação de uma concessão", disse.

O ministro disse ainda que já há ações contra outra rede nacional, a Globovisión, de notícias 24h, e contra a norte-americana CNN por terem publicado "informações erradas".

Segundo ele, a CNN, por exemplo, usou imagens de protestos no México para falar das manifestações contra o fechamento da RCTV.

Esperança

O presidente da Radio Caracas Televisión (RCTV), Marcel Granier, afirmou que a sua emissora ainda voltará a funcionar na Venezuela.

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A afirmação foi feita pouco antes da RCTV sair do ar à 0h59 de Brasília (23h59 na Venezuela) por não ter sua concessão de freqüência estatal renovada pelo governo de Hugo Chávez.

"Na Venezuela, a democracia e a RCTV retornarão", afirmou Granier. "O governo vence, mas não convence. Ele perde mais do que acha que ganha. Ele perde respeito internacional", completou ele.

Nova emissora

Como estava previsto, o canal mais antigo da televisão na Venezuela saiu do ar após 53 anos de exibição no canal 2, acusada pelo presidente Hugo Chávez de prejudicar o socialismo do século XXI.

Já a primeira transmissão da TVes (leia-se ‘Te ves’, que significa "você se vê" em português) teve início com o hino nacional, executado pelo coral e a orquestra sinfônica juvenil Simón Bolívar sob a batuta do maestro Gustavo Dudamel.

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A presidente da nova emissora, Lil Rodríguez, fez um breve discurso de inauguração, de perfil político, no qual apelou à "responsabilidade dentro da Constituição, nossa soberania, nossa alegria".

Manifestações de protesto prosseguiram durante toda a madrugada em vários bairros de Caracas.

Na noite de domingo, a polícia metropolitana não tolerou nenhuma perturbação da ordem pública e dispersou atos de protesto em vários pontos da cidade com bombas de gás lacrimogêneo.