Os juros dos títulos públicos da Espanha aumentaram ontem, enquanto as ações na Bolsa de Madri despencaram, em meio a um escândalo financeiro e político que, segundo analistas, pode prejudicar o primeiro-ministro do país, Mariano Rajoy.
Usando um comunicado, tornado público ontem, o Partido Popular (o de Rajoy) negou as acusações, feitas pelo jornal El País, de ter realizado pagamentos não contabilizados aos líderes do partido.
O diário madrilenho, em sua edição de ontem, mostrou imagens de cadernos de contabilidade do partido utilizados entre 1990 e 2008, que continham anotações de pagamentos a vários líderes, entre eles Rajoy, que teria recebido cerca de 25 mil euros (R$ 67 mil) por ano, durante 11 anos.
"O PP [Partido Popular] não tem conhecimento das notas manuscritas publicadas nem do seu conteúdo e não reconhece os livros como deste partido". O texto ainda informou que já ordenou uma auditoria em suas contas.
O partido afirma que todos os pagamentos do partido aos seus líderes e funcionários foram efetuados de maneira oficial, contabilizada e dentro das regras fiscais e legais. "Não existe uma contabilidade oculta no PP".
As contas destacadas por El País seriam uma contabilidade paralela do partido, onde eram registradas as doações de empresas, especialmente construtoras, e as saídas de dinheiro por meio de pagamentos realizados aos dirigentes, onde constam nomes e valores.
Os pagamentos alegados podem não ser ilegais se os líderes declararem o recebimento da renda em seus informes. Porém, o partido afirmou que não efetua pagamentos que não sejam os contabilizados nos livros oficiais do partido.
O escândalo atinge Rajoy no momento mais agudo da crise do país, que está sob forte recessão, insatisfação da população e com o índice de desemprego beirando os 27%, a maior taxa da zona do euro.
Até recentemente, os partidos políticos espanhóis eram autorizados a receber doações anônimas, no entanto, essas entradas deveriam ser registradas no livro oficial de contas.
O Partido Socialista Espanhol (PSOE), da oposição, se manifestou dizendo que "Rajoy não pode ficar calado", via microblog Twitter.