O jornalista venezuelano Luis Carlos Díaz, que havia sido preso na segunda-feira (11) por relação com uma suposta "sabotagem" do sistema elétrico da Venezuela, foi solto na noite desta terça-feira (12), segundo informou o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP).
Ele estava preso na sede do Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin), no Helicoide, um edifício construído para ser um shopping center, em Caracas, que vem sendo usado como cadeia para presos políticos e comuns pelo serviço de inteligência e é descrito por ex-presos como "inferno na terra".
Por volta das 19h (20h em Brasília), o jornalista foi levado a uma audiência de apresentação no Palácio de Justiça de Caracas, onde o acusaram de incitação ao crime.
Apesar de ter sido libertado, Díaz ainda responde às acusações do regime chavista e está proibido de sair do país. Também terá que se apresentar a cada oito dias perante às autoridades do tribunal e não poderá dar declarações públicas. O advogado que o acompanhou também está proibido de dar declarações sobre o assunto.
"Vocês vão entender que não podemos testemunhar, eu tenho mil histórias, mas por enquanto não podemos dizer nada", declarou Díaz após ser libertado. Ele agradeceu o apoio que recebeu dos cidadãos, jornalistas e organizações de direitos humanos, e disse que espera "continuar fazendo jornalismo".
Na madrugada de terça-feira (12), o sindicato de jornalistas publicou a informação de que agentes do Sebin apreenderam computadores, pen drive, celulares e dinheiro da casa de Díaz, antes de levá-lo preso.
Diosdado Cabello
Na sexta-feira (8), a conta no Twitter do programa "Con el Mazo Dando", apresentado por Diosdado Cabello, político conhecido como segundo homem do chavismo e presidente da Assembleia Nacional Constituinte, publicou um vídeo editado de uma transmissão feita por Luis Carlos e sua esposa Naky Soto.
Na publicação, além de chamar o jornalista de "influencer fascistóide", Cabello o acusa de ter participação nos blecautes e de ter organizado uma operação com "a direita local e a direita gringa" para colapsar o país.
O vídeo de cerca de um minuto e meio mostra Luis Carlos respondendo a pergunta de um seguidor sobre os efeitos que um apagão pode ter em um país em situação de crise. Em um dos cenários hipotéticos citados por ele, o jornalista fala que as pessoas podem sair às ruas para recuperar o "tecido social rompido".
Díaz fazia parte da equipe do programa de rádio Circuitos Éxitos, junto com um dos jornalistas mais respeitados do país, César Miguel Rondón. O programa foi encerrado no dia 15 de fevereiro, segundo Rondón, "porque se tornou um incômodo para o regime".
Acusações contra Guaidó
O procurador-geral do regime chavista Tarek Saab anunciou que o presidente interino Juan Guaidó está sendo investigado em conexão com a suposta sabotagem do sistema elétrico nacional – que o governo diz ser responsável pelo apagão que começou na quinta-feira passada.
Saab considerou um "fato revelador" uma publicação de Guaidó em uma rede social. "Poucas horas depois de ter ocorrido este feito lamentável, como sabemos, essa sabotagem elétrica nacional jamais vista na história republicana, ele publicou em sua conta no Twitter: 'Está claro para a Venezuela que a luz chega com o fim da usurpação'. Isso ocorreu apenas uma ou duas horas depois de haver acontecido esse fato lamentável", disse Saab na sede do Tribunal Supremo de Justiça.
Guaidó já estava sob investigação por “ocorrências violentas” no país desde janeiro, quando seu movimento de oposição decolou. Ele rechaçou as novas alegações, dizendo: “Aqui estamos, mais firmes do que nunca”.
Analistas disseram que duvidam que o líder da oposição popular seja detido.
“Eles o atacarão como parte de uma estratégia para ganhar tempo, responsabilizar seus adversários [pelos problemas do país] e tentar deixar as pessoas cansadas e frustradas” com as alternativas políticas do país, disse Luis Vicente Leon, analista e pesquisador venezuelano.