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O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, em julho de 2022, durante a celebração do 43º aniversário da Revolução Sandinista, em Manágua
O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, em julho de 2022, durante a celebração do 43º aniversário da Revolução Sandinista, em Manágua| Foto: EFE/Jorge Torres

O jornalista nicaraguense Víctor Ticay foi condenado nesta sexta-feira (18) a oito anos de prisão por ter feito a cobertura de uma procissão no município de Nandaime, na Nicarágua, durante a Semana Santa em abril deste ano.

Ticay foi condenado sob a acusação de "propagação de notícias falsas" e "conspiração para prejudicar a integridade nacional", sendo este último considerado também um crime de "traição à pátria" pela Justiça.

A condenação do jornalista foi amplamente criticada por defensores dos direitos humanos, opositores do regime sandinista e grupos jornalísticos.

Víctor Ticay era colaborador do Canal 10 da televisão local e diretor da página do Facebook "La Portada". Ele recebeu uma sentença de cinco anos de prisão por especificamente “prejudicar a integridade nacional” e de três anos por “cibercrime”.

A ONG de direitos humanos Nicarágua Nunca Mais, composta por ativistas nicaraguenses, repudiou a condenação, classificando-a como “arbitrária e inconstitucional”.

A organização também denunciou que essa sentença faz parte da estratégia de repressão do regime de Ortega para silenciar os meios de comunicação e amedrontar a população.

A prisão de Ticay ocorreu em abril, um dia após ele ter transmitido nas redes sociais uma procissão em Nandaime. O ato religioso havia sido proibido pela Polícia Nacional, mas mesmo assim foi realizado na cidade.

A condenação do jornalista se soma às de Olesia Auxiliadora Muñoz Pavón, opositora nicaraguense, e de Jasson Noel Salazar Rugama, líder estudantil, que foi condenado por "propagação de fake news".

Víctor Ticay está atualmente detido na prisão de segurança máxima conhecida como La Modelo, na capital Manágua, local para onde Ortega está enviando todos os seus opositores condenados à prisão.

Ditadura também impediu um padre de entrar no país

Em mais um ato de repressão contra os católicos, a ditadura de Daniel Ortega também proibiu neste mês a entrada no país do padre Eladio Sánchez, que reside na Itália e buscava se despedir de seu irmão recentemente falecido.

A notícia foi revelada pela pesquisadora exilada Martha Molina, autora do relatório "Nicarágua: Uma Igreja perseguida?", no qual são documentados os persistentes ataques do regime contra a instituição.

Em entrevista ao site Infobae, Martha Molina compartilhou detalhes do caso. Ela afirmou que o padre Eladio Sánchez desejava dar seu último adeus ao irmão, Orlando Sánchez, e prestar apoio à sua família. No entanto, a ditadura nicaraguense, sob o argumento de que se tratava de "persona non grata", negou a entrada do padre no país.

O caso não é isolado, segundo Molina: Eladio Sánchez é o quinto pároco ao qual foi negada a entrada na Nicarágua nas últimas semanas. O regime de Ortega também recusou neste mês a entrada de dois párocos que retornavam da Jornada Mundial da Juventude, em Portugal. Os afetados foram Tomás Sergio Zamora Calderón, pároco da igreja Nuestro Señor de los Milagros, e William Mora, da igreja Cristo Rey, na diocese de Siuna.

Martha Molina enfatizou que esses atos de repressão contra a Igreja e seus representantes fazem parte de um padrão contínuo de abuso de poder por parte do regime de Ortega.

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