O opositor e jornalista russo Vladimir Kara-Murza, em prisão preventiva há um ano e acusado de traição e outras duas acusações criminais, foi condenado nesta segunda-feira (17) por um tribunal russo a 25 anos de prisão, a serem cumpridos em uma prisão de alta segurança.
A condenação do dissidente gerou grande expectativa e reuniu no edifício do Tribunal Urbano de Moscou cerca de 100 jornalistas e diplomatas.
Na sua última intervenção, na semana passada, Kara-Murza garantiu que não se arrepende de "nada" e que ama a Rússia.
"Estou preso por minha posição política, por ser contra a guerra na Ucrânia, por minha longa luta contra a ditadura de (presidente russo Vladimir) Putin", afirmou o opositor, que se disse orgulhoso por ter sido introduzido na política pelo oposicionista Boris Nemtsov, assassinado em 2015 perto do Kremlin.
Hoje, o tribunal também multou Kara-Murza em 400 mil rublos (cerca de US$ 5 mil) e a proibiu de exercer o jornalismo por sete anos.
O dissidente, de 41 anos, foi condenado por alta traição, crime punível com até 20 anos de prisão, divulgação de informações falsas sobre a atuação do Exército russo na Ucrânia e cooperação com uma ONG declarada indesejável pela Justiça russa.
O juiz atendeu assim a demanda do Ministério Público que havia pedido 25 anos de prisão para Kara-Murza.
A defesa já anunciou que vai recorrer da decisão. “Acreditamos que durante o processo judicial foram cometidas várias falhas e vamos recorrer”, disse a advogada Maria Eismont, citada pela agência de notícias oficial russa TASS.
De acordo com a advogada, o próprio Kara-Murza reagiu à sentença dizendo que ela comprova seu valor como “cidadão e político”.
Várias dezenas de jornalistas independentes exigiram anteriormente a libertação de Vladimir Kara-Murza em uma carta, na qual denunciam as acusações como "infundadas" e "cínicas", e o processo judicial aberto contra o opositor como político.
"Kara-Murza é um autêntico patriota que nos primeiros dias da guerra já se pronunciou contra a agressão russa (...). Mas hoje na Rússia defender a paz e o fim da guerra é um crime", apontou a carta.
Segundo a embaixadora americana na Rússia, Lynne Tracy, "o processo criminal contra os críticos do regime é um sinal de fraqueza, não de força".
Por seu lado, a embaixadora britânica em Moscou, Deborah Bronnert, disse estar consternada com a decisão, que relacionou com as "declarações corajosas" de Kara-Murza contra a intervenção na Ucrânia.
Recentemente, os advogados do opositor, considerado prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional, informaram que Kara-Murza havia sido diagnosticado na prisão com polineuropatia nos membros inferiores em decorrência das duas intoxicações que sofreu em 2015 e 2017.
Segundo a defesa do opositor, a enfermidade que sofre se agravou durante os meses de prisão preventiva e o impede de cumprir a pena.
De acordo com o site investigativo "Bellingcat", Kara-Murza já havia sido perseguido pela mesma unidade do Serviço de Segurança Federal que posteriormente envenenou o líder oposicionista Alexei Navalny, que cumpre oito anos de prisão.
Em outubro de 2022, foi homenageado com o Prêmio Vaclav Havel de Direitos Humanos, concedido pelo Conselho da Europa.