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Com cerca de um milhão de habitantes, a cidade ucraniana de Dnipro, a 290 quilômetros da fronteira leste com a Rússia, é o quarto maior município do país. É a terra natal da escritora e filósofa Helena Blavatsky e o lar de um lendário monastério bizantino destruído em 1240 por invasores da Mongólia.
Foi tomada pelos nazistas em 1941 e viu sua população de judeus cair de 30 mil para 700 pessoas em 4 dias. Foi fechada pelos soviéticos em 1959 e uma das últimas regiões a ser reaberta pela perestroika em 1987. Na manhã da última quinta-feira, 24 de fevereiro, seus moradores foram acordados com o som de uma explosão.
Em depoimento à Gazeta do Povo, a jornalista Masha Proshkina conta que acordou às 5 horas da manhã. Começou a checar as notícias e mensagens enquanto o marido falava ao telefone, e descobriu que o barulho vinha de perto do aeroporto da cidade. Amigos que moram a até 5 quilômetros do local sentiram as janelas tremerem.
“Antes de hoje, estávamos relativamente tranquilos. Até eu estava otimista, imaginei que a guerra seria nos territórios ocupados. Hoje, as pessoas começaram a entrar em pânico. Moradores de Kiev começam a deixar a cidade para municípios menores ou apenas vão para algum lugar mais perto da fronteira europeia”, conta a jovem ucraniana, que trabalha para uma empresa britânica.
“Temos equipe em Kiev. Um dos colegas que mora perto da unidade militar ouviu explosões e nos enviou fotos da fumaça sobre os prédios. Outro se mudou da capital para um vilarejo menor e viu a queda de uma aeronave, o que mais tarde foi mencionado nas notícias locais”.
Segundo Masha, o pânico causou filas enormes em lojas, farmácias e bancos, que instituíram um limite de 3 mil grívnias - a moeda ucraniana – para saque. De acordo com a imprensa internacional, um toque de recolher foi estabelecido um toque de recolher às 22 horas. A jornalista, contudo, não pretende se mudar da cidade.
“Os moradores daqui estão tentando se mudar para prédios menores. Vamos fazer o mesmo, já que moramos no 13º andar e perto da ponte principal e da estação ferroviária. Até agora, tudo indica aque os ataques são todos focados em lugares estratégicos. Nós temos família aqui, minha mãe mora em uma cidade pequena por perto, não tenho vontade de mudar mesmo que tenha oportunidade”, explica.
Há um mês, em entrevista para um veículo australiano, Masha não imaginava que viveria tal cenário. “Disse a eles que não esperava uma invasão e que, até o momento, a guerra estava só na mídia. Mas tenho que admitir que estava errada. Mesmo os jornais locais não imaginavam que poderia acontecer o pior cenário”. Sobre a possibilidade de ver seu país se tornar, efetivamente, uma parte da Rússia - como deseja Vladimir Putin – a jornalista afirma: “Bem, devo dizer alguns de nós literalmente odeiam a Rússia agora? Isso é o que posso te responder. Não é apenas ruim, é inaceitável”.
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