Um tribunal de Istambul condenou dois colunistas de um jornal turco a dois anos de prisão nesta quinta-feira sob a acusação de terem insultado valores religiosos e incitado o ódio público. A sentença de Ceyda Karan e Hikmet Çetinkaya, que escrevem para a publicação “Cumhuriyet”, veio depois que eles ilustraram suas colunas com uma controversa caricatura de Maomé. A ilustração havia sido originalmente publicada pelo semanário satírico francês “Charlie Hebdo” no ano passado.
No desenho, o profeta islâmico derruba uma lágrima e segura um cartaz com a frase “Je Suis Charlie”, que foi muito utilizada após o ataque à redação da publicação francesa em 2015. A maioria dos muçulmanos considera a retratação de Maomé em imagens uma blasfêmia.
Segundo o tribunal, os jornalistas não demonstraram nenhum remorso quanto às suas ações e, por isso, têm o potencial de cometer o mesmo crime novamente. A sentença ainda deverá passar, no entanto, pela Suprema Corte turca.
“A decisão nos mostra a situação mais recente da lei na Turquia”, disse a jornalista turca Ceyda Karan em entrevista ao Globo. Esse tipo de decisão só foi tomada em países não-secularistas, como o Paquistão. A liberdade de expressão recebeu um tiro em nosso país. As caricaturas que publicamos são apenas uma reação ao terrorismo, todos sabem disso. Não havia nenhum insulto nelas.
Dentre as pessoas que fizeram queixas contra os colunistas estão membros da família do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan: duas de suas filhas, um filho e seu genro Berat Albayrak, que também ocupa o cargo de ministro da Energia. Segundo Ceyda, isto comprova o caráter majoritariamente político da sentença judicial.
Após os ataques à redação francesa, o “Cumhuriyet” também publicou um encarte de quatro páginas do “Charlie Hebdo” em uma de suas edições.
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