José Mujica, um ex-guerrilheiro que promete manter políticas amigáveis aos investidores, venceu o segundo turno da eleição presidencial no Uruguai, consolidando o poder nas mãos da coalizão de esquerda que já governa o país.

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Com 96% das urnas apuradas, Mujica tem 53% dos votos contra quase 43% de seu rival conservador, o ex-presidente Luiz Lacalle, segundo resultados oficiais. Lacalle reconheceu a derrota mais de uma hora depois do fechamento das urnas, enquanto projeções mostravam que Mujica caminhava para a vitória.

O triunfo de Mujica foi um testemunho da popularidade do presidente Tabaré Vázquez, que está deixando o cargo, e da dominação política da coalizão Frente Ampla, que supervisionou um sólido crescimento econômico desde que chegou ao poder há quatro anos. "A melhor publicidade que tivemos foi Tabaré Vázquez", disse Mujica em entrevista pela televisão. "Vamos continuar seu programa."

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Mujica, que ficou preso por 14 anos por conta de suas atividades como guerrilheiro, superou alegações de que alinharia o Uruguai com a esquerda radical da América Latina, liderada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Mas ele elogiou várias vezes o governo do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e buscou retratar a si mesmo como uma pessoa que deixou para trás seu passado como militante.

Perfil

José Mujica participou da guerrilha urbana de esquerda na década de 1960. Os guerrilheiros tentaram mudar o rumo do Uruguai com armas. Ele foi encarcerado em várias ocasiões e foi torturado pela ditadura militar. Ele depois passou décadas explicando esse passado, mas também se transformou em um dos políticos mais populares do país.

Ligado ao trabalho rural desde muito cedo na vida, o ex-ministro da pecuária e senador de 74 anos tentou afastar as dúvidas sobre os rumos da política econômica sob um eventual governo seu dizendo que seguirá a mesma linha já instalada pelo atual presidente Tabaré Vázquez.

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Criticado por seu modo de vestir pouco elegante e desalinhado e seus hábitos simples, Mujica suavizou o discurso nos últimos anos, mesmo que ele ainda cause algum desconforto para alguns.

Para acalmar temores e conquistar eleitores mais moderados, Mujica leva em sua chapa Danilo Astori, o ex-ministro das finanças que é muito elogiado por sua condução da economia do país, que permitiu ao Uruguai evitar a recessão na atual crise mundial.

A guerrilha urbana a que se uniu Mujica, o Movimento de Liberação Nacional Tupamaros, protagonizou choques com a polícia e o Exército, sequestros e assassinatos até o começo da década de 1970.

Mujica conta que certa vez num enfrentamento recebeu seis ferimentos a bala. Porém, em uma entrevista ele disse que nunca matou ninguém.

Forças de segurança acabaram com a guerrilha antes do golpe de estado de 1973, quando começou uma dura repressão contra simpatizantes da esquerda que deixou 200 desaparecidos.

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Segundo analistas, esse estilo direto e meio camponês de falar do mesmo modo com as autoridades e com o povo o levou a ser o senador mais votado nas eleições de 2004, uma década depois de haver entrado no Congresso como deputado.

Mujica e sua mulher, a senadora e ex-companheira de guerrilha Lucía Topolansky, vivem numa chácara e doam parte de seus salários a um fundo de apoio a pequenos empreendimentos familiares.

O político disse que do salário de presidente utilizará apenas uns 15% para cobrir necessidades de um familiar doente e doará o resto.

"Com o que ganha minha companheira que é senadora já conseguimos viver e não preciso de mais. Na etapa da vida em que estou, mais perto do cemitério do que do outro lado, ter pouca bagagem é o melhor que há na vida. Estou super bem de saúde, mas tenho 74 anos", disse Mujica.