A Justiça portuguesa decretou na tarde desta segunda-feira (24) a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro José Sócrates. Detido desde sexta passada (21) por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal, Sócrates foi ouvido novamente em interrogatório nesta segunda-feira (24) em Lisboa.
Primeiro chefe de governo a ser preso no país, ele está detido no Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública. Além de Sócrates, estão detidos o seu amigo e empresário, Carlos Santos Silva, o seu motorista particular, João Perna, e o advogado Gonçalo Trindade Ferreira.
As investigações sobre o ex-premiê começaram após o banco Caixa Geral de Depósitos fazer "comunicação bancária" à Justiça. Numa complexa sucessão de movimentações bancárias, o dinheiro que Sócrates detinha, e que era transacionado por Santos Silva, passaria, por meio de empresas offshores, para a conta do representante da empresa farmacêutica suíça Octapharma. Este o entregaria a Sócrates para pagar falsas faturas, inventadas apenas para lavar o dinheiro.
Sócrates, 57, foi primeiro-ministro de Portugal entre março de 2005 e junho de 2011. Após deixar o governo, mudou-se para Paris, afastando-se da vida política. Em março de 2013, em uma entrevista à RTP, foi confrontado com as acusações de ter uma vida de luxo na capital francesa.
"Tenho uma só conta bancária há mais de 25 anos. Nunca tive ações, offshores. Nunca tive contas no estrangeiro. A primeira coisa que fiz quando saí do governo foi pedir um empréstimo ao meu banco", disse à emissora de rádio portuguesa.
Seu nome já tinha sido envolvido em alguns processos judiciais, como o licenciamento do um empreendimento imobiliário no estuário do rio Tejo, perto de Lisboa.
Segundo as atuais investigações, o motorista do ex-primeiro-ministro ia periodicamente de carro a Paris entregar-lhe dinheiro vivo, em quantias que atingiam as dezenas de milhares de euros.
Brasil
Desde janeiro de 2013, Sócrates é presidente do conselho consultivo para a América Latina da farmacêutica suíça Octapharma. Ele foi indicado ao cargo por Joaquim Lalanda de Castro, representante da multinacional e citado na Operação Vampiro da Polícia Federal brasileira, que investiga, desde 2004, fraudes na compra de derivados de sangue pelo Ministério da Saúde.
Em fevereiro de 2013, Sócrates se reuniu em Brasília com o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Um dia antes da prisão de Sócrates, a sede da Octapharma em Lisboa foi alvo de uma operação policial de busca e apreensão.