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O líder opositor Juan Guaidó, que foi reconhecido como presidente venezuelano pelos Estados Unidos, Brasil (ambos entre 2019 e 2022) e União Europeia (até 2021), criticou as declarações do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a visita do ditador Nicolás Maduro a Brasília nesta segunda-feira (29). ONGs também criticaram as falas do mandatário brasileiro.
Lula afirmou que a condenação internacional a Maduro é baseada numa “narrativa”, disse que a Venezuela é vítima de “preconceito” e chamou Guaidó de “impostor” pelo seu status de presidente interino a partir de 2019.
“O presidente do Brasil, por laços ideológicos e econômicos, revitimiza o povo venezuelano ao negar o caráter ditatorial de Maduro. Esquece-se dos assassinados, das vítimas, da destruição da Amazônia e dos milhões de migrantes. Atitudes negacionistas de chefes de Estado são um aval para que indivíduos como Maduro continuem agindo impunemente”, escreveu Guaidó no Twitter.
A respeito da acusação de “impostor”, o oposicionista rebateu: “Lula me ataca para evitar o óbvio: ele ‘maquia’ e apoia quem é acusado de torturar a oposição, terrorismo e narcotráfico e de criar a maior crise de deslocados do continente. Presidente Lula, você pode me atacar, mas vai falar sobre eleições [na Venezuela] e direitos humanos?”.
A ONG venezuelana Provea também criticou Lula no Twitter. “Senhor Lula, somente em 2023, cerca de 8,9 mil vítimas apoiaram de forma esmagadora a retomada da investigação por crimes contra a humanidade, Venezuela I, no Tribunal Penal [Internacional, em Haia]. Não é uma ‘narrativa construída’, é parte de um plano sistemático contra a população civil e dissidente, denunciado pela ONU”, destacou a organização.
“Pedimos respeito a todas as vítimas, que merecem justiça e a reparação que o Estado venezuelano não oferece”, acrescentou a Provea.
Juanita Goebertus, diretora da Divisão das Américas da ONG Human Rights Watch (HRW), utilizou os comentários recentes de Lula sobre a guerra na Ucrânia para chamar a atenção do presidente brasileiro.
“Assim como com a Ucrânia, Lula deve entender que, se quer que o Brasil tenha um papel de liderança frente à Venezuela, deve partir de um diagnóstico correto – e não falsificado – da realidade. O autoritarismo na Venezuela não é uma ‘narrativa construída’. É uma realidade inquestionável”, disparou Goebertus.