Cortejo de mil barcos pelo rio Tâmisa, confraternizações em almoços de rua, show com grandes astros e um forte esquema de segurança: as comemorações dos 60 anos de reinado de Elizabeth II ostentam todos os elementos capazes de nutrir a admiração pela monarquia por boa parte da população do Reino Unido. A festança, no entanto, deixa uma conta indigesta para o atual momento de crise aguda e austeridade fiscal na Europa, pois acaba agravando a recessão no país.
O jubileu de diamante, que começou neste sábado (2), e terá quatro dias de celebrações intensas, com direito a feriado prolongado até terça-feira (5). A ocasião é considerada histórica porque somente a rainha Victoria havia conseguido celebrar seis décadas no poder, em 1897. Elizabeth II chegou ao trono em 6 de fevereiro de 1952, após a morte de seu pai, George VI retratado no filme O Discurso do Rei, vencedor do Oscar em 2011.
Como a família real exerce poder de fascínio sobre os britânicos, há grande expectativa para as comemorações. A consultoria Brand Finance buscou medir em números todo o seu significado institucional, político e emocional e concluiu que a monarquia é uma "marca" avaliada em 44 bilhões de libras (cerca de R$ 130 bilhões). "A monarquia é uma das mais valiosas marcas britânicas", afirma David Haigh, presidente da Brand Finance.
Nada menos do que um recorde de 9,5 mil ruas serão fechadas pelo país para a realização de almoços ao ar livre neste domingo, um dos principais costumes para a ocasião. O comércio está tomado por itens e lembranças com motivos do jubileu.
O ponto alto ficará com o cortejo de mil barcos pelo rio Tâmisa, que também acontece neste domingo, com a participação da rainha e outros membros da realeza. O desfile sairá da ponte de Battersea, no sul de Londres, até a Tower Bridge, um dos principais cartões postais da cidade, e deverá ser assistido por uma multidão.
O pesado esquema de segurança necessário para garantir a passagem dos barcos, inclusive com o fechamento de pontes, é visto como um ensaio para as Olimpíadas, entre julho e agosto. Na segunda-feira, um show com nomes como Paul McCartney, Stevie Wonder e Elton John ocupará a frente do Palácio de Buckingham.
Está recriado, assim, o clima vivido há pouco mais de um ano, durante o casamento do príncipe William e Kate Middleton. Aliás, a imagem carismática do casal ajuda a sustentar a popularidade da família real. Foi o próprio casamento real no ano passado, entretanto, que trouxe uma lição amarga.
Apesar de todas as expectativas com o estímulo ao consumo, varejo e turismo trazidas pelo jubileu da rainha, as celebrações devem, na verdade, aprofundar a recessão no Reino Unido. O feriado prolongado fará a atividade parar. Como as escolas estarão fechadas durante toda a semana, uma parte da população aproveita para sair em férias. O próprio governo estima que a festa irá tirar 1,2 bilhão de libras (R$ 3,6 bilhões) da economia.
Festa "indigesta"
O Banco da Inglaterra projeta que as comemorações da rainha poderão reduzir o PIB em 0,50 ponto porcentual no segundo trimestre. Segundo o BC inglês, no ano passado o casamento real tirou 0,4 ponto porcentual do crescimento do país. "Acreditamos que o PIB do Reino Unido terá contração de 0,2% no segundo trimestre, pressionado pelo feriado adicional com o jubileu da rainha", acredita Simon Wells, economista do HSBC.
O país ainda não conseguiu se recuperar da explosão da crise financeira global o Produto Interno Bruto está 4,4% abaixo do registrado no início de 2008. Após dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Reino Unido se encontra novamente mergulhado numa onda de contração econômica.
O período de dificuldades é reforçado pela drástica política de redução de gastos públicos colocada em prática pelo governo conservador do primeiro-ministro David Cameron. Isso também gera certa discussão sobre a viabilidade de quatro dias seguidos de comemorações para os 60 anos de reinado de Elizabeth II. Entre a maioria que apoia a monarquia, prevalecem os argumentos de que a ocasião é histórica e que a maior parte dos custos das festas será bancada pela iniciativa privada.
Foi criada uma fundação para levantar dinheiro entre empresários e apoiadores de forma a arcar com os 10,5 milhões de libras (R$ 30 milhões) previstos para o desfile de barcos, mas os contribuintes ficam com os custos referentes à estrutura de segurança montada para as celebrações. Além disso, soldados, policiais, bombeiros e paramédicos receberão medalhas comemorativas com valores estimados entre 7 milhões e 8 milhões de libras (R$ 21 milhões a R$ 24 milhões).