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Juiz indicado por Trump nega acusação de ataque sexual

Manifestantes apoiam Brett Kavanaugh, indicado por Donald Trump à Suprema Corte americana | Andrew Harrer/Bloomberg
Manifestantes apoiam Brett Kavanaugh, indicado por Donald Trump à Suprema Corte americana (Foto: Andrew Harrer/Bloomberg)

A professora Christine Blasey Ford, que acusa o juiz indicado para Suprema Corte Brett Kavanaugh de tê-la atacado sexualmente em 1982, deu seu testemunho nesta quinta-feira (27) perante o Senado americano. Visivelmente nervosa e, em alguns momentos, emocionada, ela afirmou ter certeza de que o homem que a atacou há 36 anos é Kavanaugh. “Estou 100% segura de que foi ele”, disse, em resposta à pergunta de um dos senadores. 

O juiz, por sua vez, negou veementemente essa e qualquer outra acusação do tipo. Os dois sustentaram suas posições até o fim das audiências nesta quinta (27) no Comitê Judiciário do Senado dos EUA, como parte do processo de nomeação do juiz para a mais alta corte do país. As mais de oito horas de depoimentos foram marcadas por nervosismo, choro e embate entre senadores. 

O que diz Ford 

Ford, que dá aulas na Universidade de Palo Alto e é pesquisadora na Universidade de Stanford, ambas na Califórnia, foi a primeira a falar. Com a voz embargada e aparentando nervosismo, disse que estava "aterrorizada", mas que era seu dever cívico informar o que aconteceu enquanto ela e o juiz estavam no ensino médio.

Nós não nos conhecíamos bem, mas eu fui a várias festas para as quais Brett também foi.

Apesar de ter advertido que "não se lembra o tanto quanto gostaria" de todas as informações da festa na qual o incidente ocorreu, ela contou que alguns detalhes ficaram em sua memória e a "assombraram episodicamente enquanto adulta". Respondendo a uma pergunta de senadora Dianne Feinstein, Ford disse que desenvolveu claustrofobia e ansiedade em decorrência do episódio. 

Segundo ela, o episódio teria ocorrido em um encontro de jovens na região de Chevy Chase e Bethesda, cidades vizinhas a Washington. Ela conta que foi empurrada para um quarto e que Kavanaugh e um amigo, Mark Judge, entraram e trancaram a porta. O indicado de Trump teria a bolinado e tentado tirar as suas roupas.  

"Eu acreditei que ele fosse me estuprar", diz. "Eu tentei gritar por ajuda. Quando o fiz, Brett colocou a sua mão sobre a minha boca para me impedir". 

"Os dois pareciam estar se divertindo", afirma. "Algumas vezes eu fiz contato visual com Mark e pensei que ele poderia tentar me ajudar, mas ele não o fez". Este foi o momento que, segundo ela, ficou mais marcado em sua memória: os dois amigos se divertindo às suas custas, rindo alto, enquanto um deles estava em cima dela. 

Foi só em 2012 que se abriu sobre o episódio, em uma sessão de terapia de casal. Decidiu levar a história a público depois de se sentir pressionada ""ela conta que repórteres apareceram em sua casa e trabalho e que colegas começaram a receber ligações. 

Ford contou ainda que as últimas semanas foram as mais difíceis de sua vida – a história veio à tona em 16 de setembro, por meio de uma reportagem do The Washington Post. "Não é a minha responsabilidade determinar se ele merece um lugar na Suprema Corte. Minha responsabilidade é dizer a verdade". 

O que diz Kavanaugh 

Em um discurso em tom de raiva, entremeado por momentos de choro, o juiz Brett Kavanaugh negou as acusações de ataque sexual que pesam contra ele, posição que tem adotado desde que a história veio à tona, e disse que o processo de confirmação era uma "vergonha nacional." 

Eu não estou questionando que ela tenha sido atacada sexualmente, mas eu nunca fiz isso com ela ou qualquer pessoa.

Segundo ele, os dois não frequentavam o mesmo círculo social, mas não descarta ter cruzado com ela. Ele admitiu que costumava beber cerveja com amigos, "às vezes muitas cervejas" ""Ford diz que ele estava bêbado quando a atacou. E também reconheceu que, quando era estudante, fez "coisas bobas e estúpidas". 

Ele criticou senadores democratas, a quem acusou de tentar achar razões para dificultar sua aprovação. "O processo de confirmação se tornou uma vergonha nacional", disse. "Desde a minha indicação, houve um frenesi na esquerda para surgir com alguma coisa, qualquer coisa, para bloquear a minha nomeação."  

Para ele, trata-se de "um golpe político calculado e orquestrado". "Eu não serei intimidado a desistir do processo", afirmou. 

Caso Kavanaugh seja aprovado, o equilíbrio da corte será alterado. Ela passará a ter quatro progressistas e cinco conservadores. Caso a nomeação seja rejeitada ou trocada, e os democratas consigam maioria em ao menos uma das casas do Congresso nas eleições legislativas de novembro, o processo pode se estender para até depois de 1º de janeiro, quando começa a nova legislatura, o que complicaria a vida de Trump. 

Repercussão política 

Os senadores e a procuradora Rachel Mitchell, especializada em crimes sexuais, começaram a questioná-lo por volta das 17h. Nessa etapa, Kavanaugh também negou as alegações de Julie Swetnick, que o acusa de ter participado de uma festa onde ela teria sido vítima de um estupro coletivo, chamando-as de uma "piada" e uma "farsa". 

Um dos momentos mais tensos foi quando o republicano Lindsey Graham, um dos maiores defensores de Kavanaugh, atacou democratas. "O que vocês querem é destruir a vida desse cara, manter o assento vago [da Suprema Corte] e esperar vencer em 2020", disse.  Afirmou ainda que quem votasse contra a nomeação do juiz estaria "legitimando a coisa mais desprezível" que já viu em sua carreira política. 

Outro momento marcante foi quando o democrata Richard Durbin perguntou se o magistrado apoiava uma investigação do FBI sobre as acusações de Ford, medida que havia sido solicitada pela vítima nas últimas semanas. 

Kavanaugh mostrou certa relutância, mas disse que apoiaria o que o comitê decidisse fazer. Chegou a ficar em silêncio quando o senador o questionou se considerava a melhor coisa a se fazer. 

Ao fim da audiência, Trump escreveu em uma rede social que o juiz "mostrou à América exatamente porque ele o nomeou" e que seu discurso foi "poderoso e honesto".  

Outras acusações 

Três mulheres já acusaram o juiz de algum tipo de delito sexual, o que tem levado a um atraso no processo de nomeação de Kavanaugh para a Suprema Corte, segundo nome indicado por Trump para o cargo. O primeiro foi Neil Gorsuch, conservador moderado. 

Caso Kavanaugh seja aprovado, o equilíbrio da mais alta corte dos Estados Unidos será alterado. Ela passará a ter quatro progressistas e cinco conservadores. Se a nomeação for rejeitada ou trocada, e os democratas consigam maioria em ao menos uma das casas do Congresso nas eleições legislativas de novembro, o processo pode se estender para até depois de 1° de janeiro, quando começa a nova legislatura, o que complicaria a vida de Trump.   

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