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Em meio à campanha que antecede o segundo turno da eleição presidencial, marcado para o próximo dia 19, um promotor federal da Argentina revelou a existência de uma rede de espionagem ilegal contra membros dos poderes Executivo e Judiciário, jornalistas e empresários de destaque no país.
As investigações apontam que a ação é supostamente financiada por funcionários kirchneristas.
O promotor Gerardo Pollicita assinou um relatório expondo a existência de milhares de "alvos" espionados ilegalmente, com vítimas que vão desde o atual presidente do país, Alberto Fernández, e parte de seu gabinete até opositores, como o próprio candidato Javier Milei.
A revelação do promotor se desprende de um processo judicial que veio à tona em abril deste ano envolvendo espionagem e falsificação de identidade de juízes da Suprema Corte, no qual o principal réu é o ex-oficial de inteligência da Polícia Federal argentina Ariel Zanchetta, que foi preso em junho.
Também são acusadas no caso duas pessoas da província de Misiones, que supostamente invadiram as comunicações telefônicas e eletrônicas dos juízes por meio de dados pessoais que teriam sido coletados de forma ilegal por uma empresa especializada em dados.
De acordo com o relatório da promotoria, os responsáveis pelas informações afirmaram que as buscas por dados pessoais dos juízes foram pagas por Zanchetta, com quem a justiça encontrou, após uma operação de busca, 1.196 laudos distribuídos entre computadores e telefones celulares em seu poder.
Nos relatórios periciais informatizados, realizados pela Direção de Assistência Judicial em Crimes Complexos e Crime Organizado (Dajudeco) do Ministério Público, estão incluídas conversas entre Zanchetta e Rodolfo Tailhade, deputado nacional da coalizão peronista União pela Pátria (pela qual concorre Massa), nas quais o acusado oferece "chats" entre um funcionário da capital e um assessor do presidente da Suprema Corte.
Com essas informações, foi solicitado o impeachment de juízes do Supremo, sendo Tailhade um dos idealizadores, e cuja destituição foi agora solicitada pela maior coalizão de oposição, a Juntos pela Mudança, derrotada no primeiro turno da atual eleição e que agora apoia Milei.
Zanchetta também teria recebido encomendas de espionagem de um porta-voz kirchnerista, responsável pelas comunicações na Administração Federal de Receitas Públicas (AFIP), e de um homem ligado ao parlamentar Máximo Kirchner, filho da ex-presidente e atual vice, Cristina Kirchner.
Esses relatórios compilaram dados pessoais e de propriedade, nomes de familiares das pessoas investigadas e até mesmo o rastreamento de cada um de seus deslocamentos.
Relação com caso Nisman
Entre os dispositivos examinados pela Justiça, foram encontrados documentos que falam da morte do promotor federal Alberto Nisman, que estava investigando o ataque terrorista à associação judaica AMIA, cometido em Buenos Aires em 18 de julho de 1994, e que foi encontrado morto em sua casa em 2015 em circunstâncias estranhas.
De acordo com o portal de notícias Infobae, os documentos divulgaram ligações entre o ex-chefe do Exército argentino Julio César Milani e ex-diretores da Agência Federal de Inteligência, que aludem a um serviço de inteligência paralelo durante o último mandato de Cristina Kirchner.
O material enfatiza as falhas de segurança no edifício Torres Le Parc, em Puerto Madero, no apartamento onde foi encontrado o corpo de Nisman, que antes de morrer havia denunciado Cristina Kirchner por encobrir o atentado contra a AMIA. (Com agência EFE)