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O julgamento da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por suposta corrupção durante seu governo (2007-2015) entrou nesta segunda-feira (5) em uma de suas etapas finais, a das alegações das defesas, em um cenário de forte convulsão política no país.
Este momento-chave do julgamento começou depois de a vice-presidente ter sofrido um atentado na quinta-feira passada, em um contexto de alta tensão entre o partido governista e a oposição, que se acentuou desde o último dia dia 22 de agosto, quando o procurador envolvido nesse processo solicitou uma sentença de 12 anos de prisão para a ex-presidente.
O caso se refere a supostas irregularidades na concessão de 51 obras públicas a companhias do empresário Lázaro Báez durante os governos do falecido Néstor Kirchner (2003-2007) e de Cristina na província meridional de Santa Cruz, berço político do kirchnerismo.
A defesa de Héctor René Jesús Garro, ex-presidente da Administração Geral de Estradas da província de Santa Cruz, foi a que abriu nesta segunda-feira a fase de alegações.
O advogado de Garro começou seu discurso expressando sua "rejeição" ao ataque da última quinta-feira a Cristina e implorou a Deus para que "o ódio não vença" e para que "qualquer manifestação violenta seja absolutamente uma exceção às regras da sociedade e da convivência social".
As alegações da defesa da vice-presidente, acusada de suposta associação ilícita e administração fraudulenta de recursos públicos, estão previstas para as próximas semanas.
Pedido de condenação
A procuradoria solicitou para Cristina uma sentença de 12 anos de prisão e inabilitação perpétua para cargos públicos, ao mesmo tempo em que propôs o confisco de bens dos réus deste julgamento no valor de 5,231 bilhões de pesos (cerca de R$ 187,6 milhões).
Em suas alegações finais, os procuradores acusaram a ex-presidente de ter criado, junto com seu falecido marido, Néstor Kirchner, "uma das mais extraordinárias matrizes de corrupção" na Argentina.
O empresário Báez, o ex-ministro do Planejamento Federal Julio De Vido e o ex-secretário de Obras Públicas José López, entre outros ex-funcionários, também são acusados no caso.
No caso de Garro, seu advogado pediu sua absolvição e contestou as acusações dos procuradores dizendo que “não se pode identificar uma linha de argumentação que não seja deturpar provas, abusar de falácias circulares e afirmar questões absolutamente inexistentes”.
Defesa e polarização
A ex-presidente antecipou uma defesa ao divulgar uma declaração no último dia 23 de agosto nas suas redes sociais, na qual afirmou que esse processo oral, iniciado em maio de 2019, é “um julgamento do peronismo e dos governos nacionais e populares”.
Cristina culpou os procuradores por adotar o "roteiro" dos meios de comunicação vinculados à atual oposição política, afirmou que a sentença contra ela “já estava escrita" e voltou a denunciar ser vítima de perseguição judicial.
Após o pedido de condenação, a vice-presidente conseguiu aglutinar o apoio de um peronismo até então fortemente dividido, em particular em relação à política econômica.
Até o presidente argentino, Alberto Fernández, com quem a vice-presidente expressou suas divergências, saiu em defesa de Cristina, o que lhe rendeu críticas e ações judiciais por parte da oposição pela suposta interferência em processos judiciais.
Desde a denúncia formulada pela procuradoria, uma vigília foi montada nas portas do prédio onde mora a vice-presidente, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, o que acirrou as tensões entre o partido governista e a coalizão opositora Juntos pela Mudança - da qual faz parte o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e que governa a cidade de Buenos Aires.
Foi nessa vigília montada por militantes kirchneristas que na noite de quinta-feira passada um homem de nacionalidade brasileira foi preso após apontar uma arma para a vice-presidente e tentar efetuar dois disparos, sem que a munição fosse disparada.