Nesta quarta-feira (17), os jurados do julgamento do americano Kyle Rittenhouse, 18 anos, fizeram deliberações pelo segundo dia seguido sem chegar a um veredicto. Ex-cadete da polícia, Rittenhouse é acusado de homicídio por ter matado dois homens e tentativa de homicídio por ter ferido um terceiro durante uma noite de protestos em Kenosha, no estado de Wisconsin, em agosto de 2020.
O julgamento de Rittenhouse, que tinha 17 anos à época dos fatos e alega ter agido em legítima defesa, mexe com os Estados Unidos porque o incidente ocorreu durante manifestações de repúdio ao caso de um homem negro, Jacob Blake, que ficou paralítico após ser baleado por um policial e também porque diz respeito a um antigo debate da sociedade americana: o direito de portar armas.
Durante as manifestações de indignação contra a violência sofrida por Blake, tumultos, vandalismo e saques ocorreram em Kenosha, e publicações em redes sociais convocaram “patriotas” armados para irem à cidade para proteger vidas e propriedades.
Rittenhouse viajou de sua casa, no estado vizinho de Illinois, armado com um rifle semiautomático, o que levou a promotoria a alegar que ele provocou a violência. A defesa sustentou durante o julgamento que o jovem foi chutado, atingido na cabeça com um skate e teve uma arma apontada para sua cabeça, e apenas reagiu para salvar sua vida. Os dois homens que foram mortos eram brancos, assim como o que foi ferido e o próprio Rittenhouse.
A polarização sobre o acesso e o porte de armas nos Estados Unidos se reflete no julgamento: grupos contrários e favoráveis a regras mais rígidas sobre o assunto se manifestam em frente ao tribunal onde o destino de Rittenhouse, que pode pegar prisão perpétua, está sendo decidido desde a semana retrasada.
“É fácil ver como uma absolvição pode enviar a mensagem de que não há consequências para quem aparece armado onde quiser e, então, quando a situação complica, puxa o gatilho e sai impune”, disse Nick Suplina, vice-presidente sênior de lei e política do movimento Everytown for Gun Safety, à Associated Press.
Já Dana Loesch, comentarista de rádio e TV e ex-porta-voz da Associação Nacional do Rifle (National Rifle Association – NRA), argumentou no seu blog que Rittenhouse é inocente.
“Eu realmente não acho que este caso deveria ter sido levado a julgamento, pois é um caso claro de legítima defesa. No entanto, já que foi, Rittenhouse deve ser absolvido. Legítima defesa é legítima defesa e esse direito é exatamente o que Rittenhouse exerceu. É precisamente este direito que está sendo julgado também, sentado na mesma cadeira em que ele (Rittenhouse) está sentado”, escreveu.
Analistas que não aderiram a nenhum dos lados, por sua vez, constatam: os americanos enxergam no caso o que já estão predispostos a enxergar. “É outra batalha no que se tornou a história central de nosso tempo - as guerras culturais”, disse John Baick, professor de história americana moderna na Western New England University em Springfield, Massachusetts, em entrevista à AP.
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