Cairo - O julgamento do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak será realizado em uma academia de polícia no Cairo e somente 660 pessoas terão autorização para presenciá-lo, mas a tevê vai transmitir as sessões, informou ontem o juiz responsável pelo caso. Uma fonte próxima a Mubarak – hospitalizado desde abril, quando foi interrogado pela primeira vez – afirmou na quinta-feira que o advogado do ex-presidente dirá ao tribunal que ele está doente demais para poder comparecer ao julgamento, previsto para começar na quarta-feira. Um comunicado informou que o promotor público enviou uma carta para o ministro do Interior, Mansour el-Essawy, na qual pede a presença de Mubarak.

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Acusações

No hospital, uma autoridade afirmou que a saúde dele estava "relativamente estável", mas seu estado psicológico vem piorando. Se Mu­­barak se ausentar por doença, isso poderá irritar ainda mais os manifestantes que desejam um julgamento público. Boa parte dos egípcios considera que a doença de Mubarak e sua detenção em um hospital no balneário de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, são parte de um complô dos militares que governam o país para evitar humilhar publicamente seu ex-comandante. Mubarak não foi transferido ainda para uma prisão do Cairo onde seus dois filhos e outras autoridades aguardam julgamento. "Nas palavras de Deus, se vocês forem julgar pessoas, vocês devem fazer isso com justiça," disse em coletiva de imprensa o juiz Ahmed Refaat, que preside o caso contra Mubarak.

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O pronunciamento de Refaat acabou atrasando por causa do grande número de jornalistas interessados em obter informações sobre o caso. Mubarak é acusado de vários delitos. O mais sério é o de conspiração para matar manifestantes durante o levante que levou à sua destituição do poder, em fevereiro. Se condenado, ele pode pegar a pena de morte. Manifes­tantes e os egípcios de modo geral acusam Mubarak, que governou o país por 30 anos, de liderar um sistema corrupto que adotava como rotina a tortura de pessoas presas e esmagava a oposição. Eles o culpam pela morte de cerca de 850 pessoas que tomaram parte no levante contra o regime. Mubarak será julgado com os filhos Gamal – que era considerado seu possível sucessor – e Alaa, bem como o ex-ministro do Interior, Habib al-Adli, o empresário e assessor Hussein Salem e seis autoridades policiais.

Hosni Mubarak, de 82 anos, renunciou ao cargo em fevereiro deste ano, após um governo de quase 30 anos e que era contestado desde 25 de janeiro por grandes manifestações populares. Os protestos que derrubaram Mubarak e deixaram mais de 300 mortos e 5 mil feridos foram inspirados pela queda do presidente da Tunísia e tiveram impulso na internet.