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Manifestantes atiram pedras contra policiais durante mais um dia de protestos que tomaram as ruas do centro da capital egípcia | Khaled Desouki/AFP
Manifestantes atiram pedras contra policiais durante mais um dia de protestos que tomaram as ruas do centro da capital egípcia| Foto: Khaled Desouki/AFP

Líder dos militares serviu ditador

O marechal de campo Hussain Tantawi – líder da junta militar egípcia e atual chefe de Estado de fato – foi ministro da Defesa e ho­­mem de confiança do ditador Hosni Mubarak por 20 anos. Ele é visto pelos manifestantes egípcios como a continuidade do antigo regime, que acreditavam ter sido derrubado junto com o ditador no último dia 11 de fevereiro.

Tantawi se tornou oficial de infantaria do Exército do Egito em 1956. Participou da Guerra do Si­­nai (1956), da Guerra dos Seis Dias (1967) e da Guerra do Yom Kippur (1973) – todas contra Israel.

Em 1991, atuou na Guerra do Golfo e assumiu o Ministério da Defesa de Mubarak. Em 1995, acu­­mulou o cargo de comandante-geral das Forças Armadas.

O líder militar chegou a ser cogitado para concorrer à Presi­­dência mesmo antes da queda de Mubarak.

Foi ainda descrito por diplomatas dos Estados Unidos (em um despacho vazado pelo Wi­­kiLeaks) como "resistente à mu­­dança". Ele diz que os militares não querem se perpetuar no poder e que entregará o governo aos civis.

Como presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas – órgão formado por 20 generais – assumiu o poder após a queda do ditador. O órgão dissolveu o Parlamento e em março apontou o premiê Essam Sharaf.

Sharaf demitiu assessores de Mubarak e formou um gabinete. Mas, a demora na transição do poder para os civis fez o povo acusá-lo de ser uma fachada da junta militar.

Ele entregou o cargo na segunda-feira.

Pressão

Hussain está sendo pressionado pelos EUA e pela ONU para aca­­bar o "uso excessivo da força" por parte da polícia. "Condena­­mos o excesso de força empregado pela polícia e pedimos ao governo egípcio que tenha o máximo de moderação a fim de disciplinar suas forças de ordem e garantir o direito universal de to­­dos os egípcios de se manifestar pacificamente", disse a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Victoria Nuland.

A crise no Egito é a maior desde a queda de Mubarak em fevereiro, que provocou grandes re­­voltas populares. Até ontem 33 pessoas morreram nos confrontos com forças do governo.

Folhapress e AFP

A Praça Tahrir reviveu ontem o espírito da revolução e milhares de manifestantes pediram em uníssono a renúncia da junta mi­­litar, que prometeu realizar um plebiscito para que os egípcios decidam se os militares devem abandonar o poder.

A decisão, anunciada pelo chefe do Conselho Supremo das For­­ ças Armadas, marechal Hussein Tantawi, foi recebida com ceticismo e desconfiança na praça, onde milhares de pessoas exigiram a saída imediata da junta.

"Eles já disseram outras vezes que abandonarão o poder e não cumpriram o prometido", disse o jovem Amir Ahmed, acrescentando que continuará protestando na Tahrir.

Em seu discurso, o marechal explicou que não quer ser uma "alternativa à legalidade desejada pelo povo" e nem pretende perpetuar-se no poder. "Estamos dispostos a entregar imediatamente o governo e voltar a nossa missão original, que é a defesa da pátria, se o povo decidir por isso num plebiscito", afirmou Tantawi, sem oferecer mais detalhes sobre a realização do referendo.

O chefe da junta militar disse que tem vontade de realizar eleição presidencial antes do fim de junho de 2012, e de manter a eleição legislativa na data prevista, mar­­cada para começar na próxima se­­gunda-feira, 28 de novembro.

Para o jovem Ahmed Gharib, o discurso chega tarde: "Se Tantawi o tivesse pronunciado há três dias, a situação seria diferente. Pedía­­mos o anúncio da eleição presidencial, mas agora queremos o afastamento do Conselho Supre­­mo das Forças Armadas, responsável pela morte de vários manifestantes", afirmou.

Desde o início dos enfrentamen­­tos, já foram registradas a morte de 33 pessoas. Os ativistas consideram a situação atual uma continuação do regime de Hosni Mu­­barak, que abandonou o poder em fevereiro após 18 dias de protestos.

Além dos protestos contra a junta militar, os manifestantes também criticam os partidos políticos, que, para muitos, são cúmplices da atual situação.

Um grande cartaz afirmava ser proibido a realização de comícios e manifestações políticas na praça, e lembrava que Tahrir tem ape­­nas uma voz, a do povo. Por tudo isso e pela semelhança entre as pro­­messas do atual governo e as de Mu­­barak, o Egito parece reviver no­­vamente o espírito da revolução.

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