Os sobreviventes do naufrágio de um barco com mais de 500 imigrantes africanos, ocorrido no último dia 3 perto da ilha de Lampedusa, serão acusados pela promotoria da Itália de imigração ilegal.
A tragédia deixou mais de 130 pessoas mortas e ao menos 200 estão desaparecidas. A lei Bossi-Fini, batizada com os nomes dos ministros conservadores que a promoveram, prevê crime de cumplicidade com a imigração ilegal para quem leve à Itália imigrantes sem autorização de entrada no país.
A lei, portanto, é aplicável a quem auxilia a navegação de barcos de ilegais em situações de emergência. "Estamos assistindo a um fenômeno migratório histórico que não vai ser resolvido apelando ao medo das pessoas. Todas as medidas adotadas se revelaram contraproducentes e falharam, porque alimentaram a xenofobia e o racismo que não honra nosso país", afirmou ontem o ministro de Administrações Públicas, Giampiero DAlia.
À questão da legislação migratória italiana se somou ontem à polêmica em torno da atitude das equipes de resgate na hora do naufrágio da embarcação. A Promotoria de Agrigento, na Sicília, ainda não abriu uma investigação sobre o assunto.
Ajuda
Um jornal local assegura que duas lanchas da Guarda de Finanças ficaram atracadas no cais de Favaloro e não foram usadas na tragédia. O proprietário de um dos barcos pesqueiros que ajudou no resgate dos imigrantes criticou a atitude dos agentes.
"As pessoas estavam morrendo na água enquanto eles só pensavam em fazer fotografias e vídeos. Eles tinham que pensar em tirar as pessoas. Nós os subíamos de quatro em quatro. Quando meu barco estava lotado de imigrantes e pedimos para os agentes colocarem os sobreviventes nas lanchas, disseram que não era possível e que deviam respeitar o protocolo", afirmou Vito Fiorino.
A Capitania dos Portos respondeu em seguida, assegurando que chegou ao local só 20 minutos depois de receber um alerta por rádio.
Um hangar no aeroporto da ilha italiana de Lampedusa foi usado ontem para abrigar 111 caixões de vítimas do naufrágio. Sobreviventes e parentes das vítimas foram ao local para velar os mortos. Todos os caixões foram numerados e traziam uma rosa em cima com exceção de quatro, destinados às crianças que morreram na tragédia. Neles, havia animais de pelúcia.