Em uma decisão sem precedentes na Argentina, a Justiça determinou ontem que o vice-presidente Amado Boudou seja julgado pela suposta falsificação de documentos públicos, enquanto aumentam as vozes na oposição para que o político seja afastado e a presidente Cristina Kirchner permanece em silêncio.
O juiz Claudio Bonadío, que investiga supostas irregularidades em uma das empresas de Cristina, determinou a abertura de um julgamento após rejeitar os recursos apresentados pela defesa do vice-presidente para encerrar o caso, informou ontem o Centro de Informação Judicial.
Segundo o Código Penal argentino, a pena para o crime de falsificação de documentos é de entre um a seis anos, delito mais leve do que as outras acusações contra Boudou.
O vice-presidente teria falsificado a documentação de um veículo Honda após dez anos de uso. O carro está incluído em uma disputa legal entre Boudou e sua ex-exposa Daniela Andriuolo, que exige metade do valor do veículo como parte na divisão de bens do divórcio.
O juiz também determinou o julgamento de Agostiniana Seguin, ex-mulher do vice-presidente e que utilizava o carro, de uma chefe da Direção Nacional de Registros de Propriedade Automotiva (DNRPA) e de dois funcionários do órgão.
Segundo a decisão de Bonadío, os acusados atuaram "com a finalidade de conseguir a transferência irregular do automóvel".
O vice-presidente terá de comparecer no Tribunal Oral Federal 1 de Buenos Aires, embora ainda não se saiba a data de início do julgamento.
Calvário
O novo golpe contra o vice-presidente chega após um longo calvário, no qual seus advogados viram rechaçados todos os recursos apresentados na Justiça e a oposição endureceu as críticas contra o político.
Além disso, o vice-presidente é investigado em outras causas e está sendo processado por suposto suborno passivo e negociações incompatíveis ao seu cargo em um processo de maior envergadura, que investiga a compra irregular de uma prensa de papel-moeda quando ele estava à frente do Ministério da Economia (2009-2011).
Apesar de ter se mantido em um discreto segundo plano nos últimos meses, a decisão judicial representa um golpe para Cristina Kirchner, principal defensora de Boudou, a menos de um ano para as eleições presidenciais.