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França

Justiça condena Chirac por desvio de recursos

Ex-presidente Jacques Chirac, 79 anos, diz ter uma doença degenerativa semelhante ao mal de Alzheimer | Joel Saget/AFP
Ex-presidente Jacques Chirac, 79 anos, diz ter uma doença degenerativa semelhante ao mal de Alzheimer (Foto: Joel Saget/AFP)

O ex-presidente da França Jacques Chirac foi considerado culpado ontem por desvio de recursos e abuso de poder por um tribunal de Paris.

Chirac, de 79 anos, recebeu uma pena de dois anos de prisão, que deverá cumprir em liberdade – uma detenção pode ocorrer se for condenado por outro crime nesse período.

O ex-mandatário foi condenado em um caso que envolveu a criação de 19 empregos falsos inventados em benefício próprio, quando era prefeito de Paris, de 1977 a 1995.

A prefeitura parisiense serviu de cenário (e também de caixa registradora) para disfarçar tais empregos fictícios.

Segundo a acusação, os cargos foram ocupados por colegas do Partido Reunião para a República (PRR), criado pelo próprio Chirac em 1976 e que deu origem em 2002 ao União por um Movimento Popular (UMP), do atual presidente francês Nicolas Sarkozy.

De acordo com a promotoria, os funcionários fantasmas co­­bravam da prefeitura sem nunca ter feito nenhum trabalho para a cidade.

"Essa decisão foi muito importante para o futuro da democracia na França", disse Jerome Karsenti, advogado do grupo anticorrupção Anticor, que argumentou contra Chirac. "É uma mensagem forte do Poder Judiciário – uma mensagem de responsabilidade para todos os políticos. É uma prova de transparência democrática que hoje é capaz de fazer uma distinção e julgar um ex-presidente", disse.

Lamentos

Aliados de Chirac lamentaram a decisão judicial. Eles disseram que o idoso e doente Chirac – ele alega sofrer de uma doença degenerativa semelhante ao mal de Alzheimer – é um defensor dos valores franceses. "Essa é uma decisão que não alterará a relação entre Jacques Chirac e o povo francês", disse o primeiro-ministro François Fillon.

Chirac comandou o país entre 1995 e 2007. O veredicto foi considerado surpreendente, já que a própria promotoria pediu a absolvição do réu, no caso, até então inédito, de um ex-presidente francês que foi julgado. Chirac é o primeiro ex-governante da França condenado desde o marechal Philipe Pétain, que colaborou com os nazistas durante a ocupação na Segunda Guerra Mundial e, em 1945, foi condenado à prisão perpétua. Pétain morreu na prisão em 1951.

Em comunicado divulgado algumas horas após o veredicto, Chirac disse que, embora "conteste categoricamente o veredicto", não apelará. "[Apesar da] dor e profunda tristeza que este veredicto me provocou, eu não tenho mais a força necessária para comparecer ante novos juízes para combater pela verdade", afirmou.

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