O juiz federal Walter Bento ordenou, nesta terça-feira, a intervenção na sede da operadora de TV a cabo Cablevisión, do grupo Clarín, o maior do setor de multimídia da Argentina que, por sua vez, interpretou o fato como parte de uma "perseguição" do governo de Cristina Kirchner.
Cinquenta agentes da polícia militar entraram na sede da Cablevisión em Buenos Aires, cumprindo ordens do magistrado da província de Mendoza (oeste), por denúncia de "exercício presumível de concorrência desleal" e "posição dominante".
O juiz designou um "interventor coadministrador" depois da queixa apresentada pela empresa concorrente Vila-Manzano, titular do Supercanal, também de televisão a cabo, segundo Ricardo Mastronardi, advogado do funcionário designado interventor pela justiça, Enrique Anzoise.
A operação é "considerada sem precedentes, inscrevendo-se numa campanha sistemática de perseguição que o Governo Nacional realiza contra as empresas do Grupo Clarín", afirmou o Cablevisión em comunicado.
"Não podemos separar este episódio da escalada do gobierno nacional contra o grupo Clarín", disse o gerente de Comunicações, Martín Echevers.Segundo o ministro do Interior, Florencio Randazzo, "é um disparate" considerar que a ordem partiu do governo de Cristina Kirchner, sustentando que o Corpo de Gendarmes "atua como auxiliar da justiça".
O governo Kirchner e o grupo empresarial que publica o jornal Clarín, o de maior circulação na Argentina, mantêm um confronto que cresceu nos últimos dias.
O fato acontece num momento em que o Senado se prepara para votar uma lei polêmica que declara de interesse público o papel de jornal, que tem como único fabricante a Papel Prensa, controlada pelo Clarín (49% das ações) e La Nación (22,49%), os dois maiores da Argentina, enquanto o Estado possui uma participação de 28,08%.
Segundo imagens dos canais de notícias, o interventor Anzoise, que não substituirá o diretório da empresa, foi agredido por empregados ao deixar o prédio da Cablevisión num bairro do sul da capital argentina, incidente que foi controlado pelos policiais militares.
Mastronardi explicou que Anzoise "terá um prazo de 60 dias para analisar toda a documentação" e elaborar um relatório para o juiz Walter Bento.
Já Sandra González, da entidade de defesa do consumidor Adecua, apoiou a decisão judicial assinalando que "quando houver abuso de posição dominante fica caracterizada a concorrência desleal e, lamentavelmente, o grupo em questão não pode fazer o que pretende".
O Clarín administra 60% del mercado da televisão a cabo na Argentina e 90% na área da capital e periferia, que possui 14 milhões de habitantes, segundo o canal de notícias América 24.
A Cablevisión conta com mais de 3.300.000 assinantes distribuídos na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. Na Argentina, está presente em 96 cidades e em 12 províncias, assinalou a empresa em sua página na internet.
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